terça-feira, 25 de setembro de 2018

A viagem de volta


O voo saindo de Cusco com destino a Lima estava marcado para as 5:00 da manhã; então, às 03:00, começamos nossa viagem de volta ao Brasil. Desde a saída , os desafios físicos e dificuldades de locomoção começaram. Ainda no hotel, degraus - alguns grandes , que  subi e desci, de forma aparentemente tranquila,  pulando de muletas ! Chegando na porta de saída do hotel, novo obstáculo : porta estreita , também pulando e necessitando de ajuda – agora, do motorista de táxi, que me segurou em suas costas, para que eu pudesse sair.

Rosto super inchado, com curativos da cirurgia – parecia que tinha levado um murro bem no olho; dificuldades para sentar – não sabia como aguentaria o dia todo no avião, era bastante desconfortável a posição. Mesmo um pouco apreensiva, mas com uma atitude bem positiva , cheguei ao primeiro aeroporto por volta das 03:30 da manhã.

Como era ainda muito cedo, o check-in ainda não estava disponível e não havia onde sentar no aeroporto. Fiquei um pouco em pé, até que minha mãe conseguisse uma cadeira de rodas da companhia aérea – estavam todas com cadeados. Sentei um tanto a contragosto, mas era realmente necessário.

No check-in, eu teria que tomar uma série de providências – falar com o atendente da companhia para pedir auxílio para chegar ao avião e , principalmente, trocar a cadeira reservada anteriormente por uma com “espaço mais”. Então, às 04:00 hs o check-in foi aberto. Aparentemente, o meu nome na reserva da companhia estava errado, o que atrapalharia meu retorno para casa em todos os voos e aeroportos do trajeto. O atendente, extremamente solícito, ficou conosco até as 04:40 hs, e nos comunicou da correção dos dados para o primeiro voo, deixando encaminhado o segundo (forneceu-me um número a ser informado no check-in em Lima) e colocou-me em uma cadeira “espaço mais” sem me cobrar nada. Foi um outro anjo em minha vida!

Tudo transcorreu bem no primeiro voo, rápido e sem grandes desafios. Na chegada à Lima, solicitei à aeromoça a cadeira de rodas para o desembarque. Então, lá fomos para o novo check-in, mainha já com todos os bilhetes de embarque até o Brasil e eu, tendo que fazer um novo a cada aeroporto ( conforme orientação do atendente em Cusco ).

Quando no balcão de atendimento, em Lima, mais contratempos. O atendente falou que  por causa do problema no bilhete eu não viajaria, tendo que permanecer em Lima. Mostrei a ele o relatório médico que dizia da necessidade da chegada no Brasil e internamento no hospital, disse que o bilhete estava ali, e que estava correto,  que eu precisava viajar o quanto antes e que teria que trocar as cadeiras também. Daí lembrei do número que havia recebido em Cusco. Novo atendente chegou– provavelmente o supervisor  - e , logo depois,  eu estava pagando pelo “espaço mais” e tendo meu embarque liberado . Acabou dando tudo certo.

No trajeto para o avião, novo desafio. Teria que ir de ônibus até a nave e subir escadas . Na espera, o funcionário que estava me conduzindo na cadeira de rodas começou a falar em Jesus, que o que tinha acontecido comigo era um sinal para mudança de vida, que também ele tinha sofrido um acidente bem grave e que, depois, tudo mudou para ele (disse-me também que era pastor de uma igreja). Eu sabia que isso era um sinal da espiritualidade dizendo : no fim tudo vai ser bom, espera e verás! 

Foram quatro homens e uma nova cadeira para que eu chegasse no avião. Na hora da troca dos assentos , esqueci de solicitar o do lado direito da nave – o que ajudaria nos movimentos de levantar e sentar, quando precisasse. Fiquei então, no lado esquerdo, junto a um passageiro estrangeiro que, sentado na janela da minha fila,  de tempos em tempos precisava sair – o voo era mais longo. Nessas horas, senti algumas dores, pelos movimentos. Ele foi gentil e me ofereceu a janela, mas também não era fácil ficar por lá – agradeci e fiquei no corredor mesmo.

Chegando em São Paulo, penúltimo trajeto da viagem, qual a minha alegria! Já me sentia em casa, poderia falar português e só três horas me separavam agora do meu destino final – Recife!

No check-in, nenhuma dificuldade : passagens ok, ganhei o “espaço mais” e fiquei numa área reservada a pessoas com dificuldades de locomoção, enquanto esperava o embarque.
  
Finalmente, chegamos em Recife; estava em casa! No desembarque, o reencontro com rostos conhecidos e queridos; era uma quarta-feira, por volta das 23:00 hs, e esperavam por mim : minha irmã Rafa, minha avó Lygia e tias Lulu, Emília e Avalty, e Mavy (uma amiga muito querida). Contar a elas tudo como tinha acontecido era dolorido e também gratificante porque eu estava viva!

Conforme prometido ao médico de Cusco, do aeroporto fui direto para o hospital!


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Atendimento recebido ainda em Cusco


Luz, a recepcionista do hotel em que estávamos em Cusco, conseguiu remarcar a passagem para a madrugada seguinte ao dia do acidente. A médica queria me liberar só quando estivesse indo para o aeroporto, o que implicaria em duas noites no hospital e em sair de lá às três da manhã do dia seguinte. Como teríamos ainda  que arrumar as malas, tomar algumas providências e eu precisava da companhia de mainha, pedi à médica para ter alta antes. Assim, conseguimos voltar ao hotel na tarde do dia anterior à viagem.

Outro aprendizado bem forte é se gostou de algo que vai comprar, compre logo. Não planeje demais, pois tudo pode ser diferente do que você imaginava antes. Nessa viagem estava planejado conhecer muitos lugares na Bolívia e no Chile, mas voltaríamos a Cusco como último lugar, antes de voltar ao Brasil.

Nos últimos anos, Cusco tem sido um destino que tenho repetido muitas vezes, devido aos aprendizados de trabalho com as energias da natureza. Sempre preciso de alguns itens que só encontro por lá! Pedi então a mainha para ela fazer essas compras de última hora para mim e ela foi. O tamanho da gratidão e da honra que existe em mim de ter sido filha da minha mãe nessa vida não tem limites.

Enquanto mainha estava fora fazendo essas comprinhas e recebendo algumas devoluções que precisavam dela pessoalmente, eu , já no hotel, deitada na cama, liguei para Renilda Monteiro, uma amiga muito especial na minha vida. Como ela tem acesso às equipes espirituais e estando eu um pouco angustiada, solicitei sua ajuda. Dito e feito! Assim que ela soube do acidente, a equipe médica espiritual que trabalha com ela se colocou à disposição para fazer três atendimentos, todos às 18h, por três dias seguidos.

Depois da cirurgia plástica, estava novamente recebendo cuidados cirúrgicos -  só que dessa vez espirituais e na cabeça, já que havia levado algumas pancadas durante o acidente.  Após o primeiro atendimento, fui informada por ela que eu tive um renascimento e que , se eu tivesse dor de cabeça nas têmporas , seria  normal, porque a equipe cirúrgica espiritual havia drenado um inchaço, para evitar pressão no cérebro.

Sabia que essa informação não era qualquer informação, e que novamente, tudo está a nossa disposição, mas é necessário pedir.

Renilda Monteiro, gratidão do fundo da alma, pelo seu trabalho, pelo seu carinho, pela equipe que trabalha com você, pela disponibilidade , por todo o suporte que recebi durante o processo de recuperação e pelo canal através do qual  a espiritualidade pôde intervir sobre mim, quando cada fase passava. Foi muito importante!!!

Após esse atendimento, tive notícias sobre o guia que estava comigo no momento do acidente  : ele ligou para o hotel  e descobri que ele sairia do hospital no outro dia, que estava bem, apesar das vértebras fraturadas e de ter  que usar uma espécie de faixa por um tempo. Foi muito bom saber do seu estado de saúde.

Mainha retornou bem na hora que eu precisava ir ao banheiro -  coisa de mãe, não tem explicação! Com o apoio dela, experimentei o primeiro banho sentada. Acertamos as contas com o hotel, descobri o que havia sido cancelado e o que teria que cancelar depois do nosso retorno. Agradeci a Luz por tudo e arrumamos as malas, eu apenas ajudando verbalmente...

Agora era voltar ao Brasil e descobrir como seria essa jornada...

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Aprendizados desse momento de parada proporcionados pelo Universo - bônus escondido atrás de uma benção disfarçada.

Depois de um longo período sem escrever, retorno ao blog, plena de gratidão, na intenção de compartilhar com vocês algo que recentemente aconteceu na minha vida, do qual extraí tantos aprendizados, que preferi dividir a narrativa (quilométrica!) em alguns textos, a partir deste, que progressivamente publicarei.

Primeiro e maior aprendizado: Você não está só, o Universo, Deus, ou o nome que for adequado a você, sempre coloca à disposição absolutamente tudo que você precisa. Resta saber se existe humildade em você para receber tudo que está ao seu redor.

Sofri um acidente de carro numa estrada próximo a Cusco: estávamos eu, meu guia e o motorista do carro. Tínhamos ido a “rainbow montain” logo cedo e estávamos retornando a Cusco.

Havia experimentado, a 5.070m de altitude, um daqueles momentos em que você não sabe como começar a agradecer: muito próxima às montanhas, as nuvens passando por mim, algo realmente especial;  pode-se dizer que um daqueles momentos em que sua respiração para de tanto êxtase.

Ademais, não existia qualquer indício que pudesse me trazer insegurança: o carro era novo, o motorista cuidadoso, e sabia dirigir bem.

Pois bem. O acidente aconteceu numa estrada próxima a Cusco e não teve outros carros envolvidos. Estávamos em uma descida - segundo o meu guia um cachorro atravessou na frente do carro. Além disso, havia pedras e areia de um deslizamento recente, uma curva ao fim da descida, bem como  uma ponte sem acostamento. Na tentativa de desviar do cachorro,  o carro passou pela areia, perdeu o controle , rodou e bateu na ponte diversas vezes – nessa hora , provavelmente, eu devia estar de olhos fechados, já que não consigo precisar exatamente o que se passou.

Já no primeiro momento pós- acidente eu precisei de ajuda:  tinha que sair rápido do carro para que outro acidente não acontecesse !  Quando passei a mão no rosto, percebi que o sangue escorria; tentei firmar o pé para sair do carro e não consegui sentir a perna. Foi necessário o meu pedido de ajuda ao motorista.

Em minha vida, já aconteceram situações bem difíceis, não apenas uma, várias! Mas dessa vez eu posso dizer que o comandante superior se garantiu ! No momento do acidente eu pensei que tudo havia acabado ali! Mas não, eu estava viva, muito viva, e  o acidente trouxe para mim um monte de emoções que estavam congeladas!

Quem já viveu comigo algumas dessas situações difíceis, sabe bem que existia um comando mental muito forte em mim que me deixava à parte do meu emocional: eu olhava e dizia:  poderia ter acontecido, mas não aconteceu e me mantinha sóbria, numa falsa serenidade!

Cada situação dessa foi descongelando aos poucos muitos sentimentos que eu precisei reprimir para sobreviver até agora -  como diria meu terapeuta Florian Shlosser, e estava tudo ali; eu, em algum lugar nas estradas de Cusco, chorando feito criança, meu coração acelerado, como nunca vi antes, num misto de gratidão por estar viva, de dor física, e de medo do que poderia acontecer comigo naquele estado, onde eu não sabia qual a gravidade das lesões sofridas.

Duas horas e meia para chegar na clínica de Cusco, e no transporte até lá, teve até uma carona no camburão da polícia!

Dentro do camburão, pedi ao meu guia para me comunicar com o hotel, porque o seguro viagem estava no quarto e tinha que avisar a mamãe do acidente e para onde estávamos indo para que ela pudesse chegar lá.

Mainha não estava no quarto, então deixei um recado com Luz, a recepcionista do hotel, para que a avisasse. Fiquei um pouco apreensiva, pois não sabia como minha mãe receberia a notícia, mas não podia fazer de outro jeito, então era confiar que ia dar tudo certo.

Chegando lá ,sem poder firmar o pé direito e com o supercílio aberto, fui atendida pela médica da emergência que, muito gentil comigo, quis saber se eu  tinha dor e acionou logo um cirurgião plástico - porque eu precisaria de uma plástica no rosto. Isso foi me assustando um pouco, eu que nunca havia quebrado nada, estava ali para fazer uma cirurgia!

Não havia cirurgião plástico de plantão. Ligaram para ele , que chegou em menos de 30 minutos, o tempo necessário para serem feitas as primeiras radiografias.

Além de cirurgião plástico, o médico era ortopedista, falava português, tinha feito uma especialização no Hospital das Clínicas em São Paulo  e era engraçado, ou seja:  o médico que eu precisava para fazer a primeira cirurgia desta vida! Tudo transcorreu bem;  a anestesia foi local,  e ele conversou comigo o tempo todo da cirurgia, foi maravilhoso! Gratidão a todos os médicos e enfermeiros de lá!

Até a cirurgia, não sabia o que tinha acontecido com a perna, as primeiras radiografias não mostraram fraturas, mas doía muito para não ser nada.

Pós-cirurgia, o médico fez alguns movimentos na minha perna. Veio a dor; novas radiografias realizadas, e nelas,  foi detectada  uma fratura incompleta do fêmur direito que,  segundo ele, poderia ser tratada através de um método conservador -  sem cirurgia.  Isso me deixou um pouco triste, porque me dei conta de que as férias mal começadas, com a minha mãe, que incluiriam passeios lindos e em sua maioria já contratados e pagos, terminariam naquele momento. Teríamos que interromper a viagem e retornar ao Brasil.

Minha viagem a montanha teria atrapalhado a nossa viagem do mês todo. Eu tinha alguma esperança de poder continuá-la, mas que encerrou ali. Não recebi feliz a notícia de pronto, mas era o que deveria ser feito. Então, mãos a obra para cancelar o que fosse possível.

Luz, do hotel,  foi realmente” luz” em minha vida!  Eu não podia ligar para todos os lugares que ela ligou e nem conseguiria remarcar a viagem, estando internada no hospital. Mainha não dispunha de espanhol fluente e nem equilíbrio emocional ,naquele momento,  para isso e mais, eu precisava de uma acompanhante. Algumas coisas que eu pude cancelar pela internet, eu fiz.

Depois do acidente, uma das primeiras coisas que quis fazer foi ligar para os meus irmãos, e dizer, com todas as letras, que deixassem de besteira, que realmente a gente não sabe quando a vida nesse corpo acaba e o que pode acontecer a cada momento, e  que não faz sentido nenhum emburrar por nada! Eu poderia  ter morrido nesse acidente -  estive muito perto disso -  coisas que você só consegue dizer no momento.

Também liguei para uns amigos muito próximos, porque eu precisava falar com eles, estava em estado de choque, mas era com eles que eu queria falar.

A orientação médica era sair do hospital de Cusco para o hospital no Brasil e procurar um especialista para que ele procedesse com a conduta que  achasse adequada. Foi assim que tive liberação.

Liguei para minha amiga médica Cris, e perguntei  se  conhecia alguém em Recife que era especialista e ela indicou um amigo dela. Ainda em Cusco, encaminhei as radiografias, que a ele foram repassadas.  De posse delas  e à primeira vista  - já que no Brasil eu deveria fazer exames complementares para confirmar o diagnóstico, ele informou que eu poderia sim realizar o tratamento conservador.

Ainda no hospital em Cuzco, aprendi a andar com muletas, precisando de muita ajuda de minha mãe e das enfermeiras... Começava ai, o meu caminho de adaptação e recuperação do acidente...

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Encerramento do Grupo

Antes do encerramento, enquanto esperava para tomar banho, liguei para meu amor e ele foi bem chato ao telefone; foi estranho, não tinha entendido o que havia mudado, mas só poderia saber quando chegasse em Recife.

Arrumamo-nos para a festa e, antes do início, minha terapeuta colocou todos do mesmo chalé sentados juntos e cada um deveria falar dos desconfortos que porventura vivenciaram. No meu caso, não experimentei desconfortos; foi bem tranqüilo ficar lá, sempre ria muito, eram muito divertidos nossos momentos!

Depois cada um deveria falar da sua experiência no grupo. Algumas pessoas que eu julgava fortes e experientes nesse tipo de grupo falaram que faltaram catarses, ao contrário de mim, que estava no meu primeiro grupo, e achei toda a experiência muito intensa e cheia de descobertas.

Não falei das descobertas em si, mas falei que teria muita coisa para tratar em sessão individual. Ganhamos camisas, tiramos fotos e depois, desfrutamos de um jantar para lá de especial regado a vinhos.

Foi muito legal a confraternização e, como a essa altura eu já conversava com todo mundo, fiquei de fazer um grupo no gmail para colocarmos as fotos e dividirmos os nossos momentos. Estava mais solta, tinha vivido muita coisa nova, e algo com certeza iria mudar em minha vida.




Espero que vocês leitores que acabaram de fazer essa viagem comigo aproveitem todas as descobertas que fiz, que elas sirvam para vocês assim como serviu para mim! Foi ótimo reviver esses momentos!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Pôr do Sol no Pai Inácio

Saímos um pouco atrasados para o Pai Inácio e, por isso, tivemos que subir o que normalmente se sobe de carro a pé, já que o ônibus não subia. Era quase missão impossível: tínhamos uns vinte minutos para chegar e a distância era enorme, deveríamos estar lá até 17 horas, além do que, na volta, desceríamos sem luz, pós pôr do sol. Algumas pessoas desistiram, mas a nossa integrante com mais idade deu uma lição de querer é poder, chegou lá em cima com a ajuda da equipe; linda a sua determinação e o apoio do grupo!

Conseguimos entrar, porém agora começava a subida, e para valer a ida até lá, precisaríamos da luz do sol.

Era a vez de enfrentar o meu medo de altura, achei tudo muito perigoso, as pedras, e subia pensando em como iria descer, esse era mais um padrão meu, preocupar-me com algo que não existe agora.

No topo do Pai Inácio fui presenteada com um dos mais lindos pores do sol da minha vida. A sensação anterior, de desistência do ritual xamânico, estava superada com a chegada lá em cima.


Tirei umas fotos e, quando do retorno, na descida, o fizemos rápido também, não dei espaço para sentir os meus medos, ainda pisei em falso em alguma pedra, mas não me machuquei, cheguei lá em baixo sã e salva e com a sensação de ter vivido algo muito especial!

sábado, 16 de maio de 2015

Vivência regressiva: retorno à minha infância

Essa vivência começou com músicas infantis da minha época e em duplas, cada um pintando o outro. Sobrei e fiquei em trio, com um casal.

A atividade era difícil para mim porque nas vezes em que expressei minha criatividade até então, fui bastante criticada. Por não ter desenvolvido minha coordenação motora, essa atividade de pintura não fazia parte do melhor que tenho em mim. Eu não sabia fazer, mas era para fazer, então fiz.

Logo depois, a terapeuta pediu que fechássemos os olhos e começássemos a lembrar de nossa infância, de nossas brincadeiras, do que a gente queria ser quando crescesse, dos amiguinhos da época. Essas simples lembranças trouxeram à tona memórias que teria que lidar depois.

Lembrei que queria ser médica, e que, de fato, eu tinha me distanciado muito do que seria o meu caminho.  Eu era formada em ciência da computação, trabalhando no serviço público na área de tributação e querendo fazer concurso na semana posterior à chapada, para analista de controle externo!

Também lembrei que por volta dos doze anos, tive que deixar minhas brincadeiras com minhas amigas para cuidar dos meus irmãos, tinha que ensiná-los, eles deveriam passar de ano, essa era a minha obrigação! Não queria ter essa responsabilidade, mas não tinha outro jeito; minha mãe tinha sido aprovada num concurso e inicialmente passou um tempo em Petrolina e depois em Bodocó; só a víamos nos fins-de-semana. Depois, ela voltou para casa, mas não para a função de mãe, já havia tomado essa função para mim.

Estava tudo errado; era mãe do meu pai, do meu irmão e da minha irmã, e irmã da minha mãe! Também me dei conta que protegi meus irmãos, mas que ninguém me protegia, dei-me conta do meu abandono.

Engraçado que antes dessa vivência, enxergava minha mãe como “a salvadora da pátria”, fazendo o que ela podia fazer. Esse ângulo é bem verdade, foi uma virada e tanto que ela deu na vida, mas tinha esse outro aspecto familiar, percebido agora, e que também não sabia como lidar.

Chorei sem parar, só chorava. Começou a parte da brincadeira da vivência - a idéia era se divertir - mas eu não queria, só chorava, recusei mesmo. Lembro que logo depois da vivência fui ao banheiro e tirei toda a tinta do meu rosto o mais rápido possível, como se tirando a tinta, eu pudesse refazer o que havia descoberto: não podia mesmo!


Lembrando da cena agora, percebo que existia uma raiva em mim, uma raiva por ter tido tanta responsabilidade antes da hora, por ter perdido fases da minha vida, por precocemente ter levado a vida tão a sério.

domingo, 12 de abril de 2015

Vivência com Arte terapia

Em mais uma atividade no salão, foram distribuídas cartolinas e tinta guache, para que desenhássemos o que sentíamos; adivinhem só o meu desenho: um coração nas grades de uma prisão! Eu não tinha muito acesso ao que sentia, mas toda vez que faço um trabalho de arte terapia, a resposta é sempre imediata.

O que descobri nesse momento foi que estava me afastando do meu amor porque me sentia presa em meus próprios condicionamentos, por ele não ser o esperado pela minha família, pelos meus amigos e por mim própria. Até então, entrava nas relações achando que ia mudar a outra pessoa.

Curiosamente eu tinha um padrão de atrair pessoas que não tinham a mesma independência financeira e isso me deixava numa situação delicada, porque na minha cabeça, se eu tinha namorado deveria viajar com ele e não só, como estava fazendo, porém não existia a possibilidade de viajarmos às minhas custas, ele não queria.

Engraçado que me dou conta agora que minha história tem um pouco de privação em todo lugar. Eu podia fazer qualquer coisa, tipo viajar para a chapada em cima da hora e ele não tinha a mesma disponibilidade; consequentemente, nós não podíamos fazer nada!

Não vejo o dinheiro como um fim em si mesmo, mas como uma ferramenta para experimentar as situações que se apresentam na vida; já que dos doze aos dezenove anos não pude viajar muito, nem sair muito, então esperava que agora pudesse fazê-lo.

Apesar de estar aproveitando todas as vivências da chapada, havia a culpa por ter deixado ele lá; não era muito certo para os meus parâmetros de então. Além disso, havia sentido que ele não tinha gostado da minha ida: ele não poderia ir e portanto, nós menos ainda!

O problema é que por mais desafiante que fosse essa jornada, eu estava gostando; então, era bem provável que eu fosse querer mais e talvez já houvesse sentido que teria que escolher entre nós e eu.

E mais: tinha descoberto que, por esses condicionamentos meus, mantinha uma distância segura dos meus sentimentos; eu o amava, mas não queria passar de um determinado limite, limite esse que eu achava que daria conta de ficar bem se ele fosse embora.

Descobri que tinha dependência passiva, não me entregava de verdade por medo de sofrer depois. E decidi então que eu ia mudar isso, que ia assumir o meu sentimento, vivendo completamente o que estava querendo viver, sem reservas.

Na adolescência ele havia me dito que não namorava comigo porque me trairia e que eu era boa demais para ele. É óbvio que isso estava guardado em algum ponto da minha memória, e já que eu ia ser traída era melhor não estar tão entregue assim. Mas depois de tudo que já vivi, posso dizer sem medo de errar, que vale super a pena um momento de pura entrega, de seu coração batendo forte, mesmo que num outro momento você venha a sofrer a maior decepção da sua vida. Se a tristeza vier depois é só uma prova de o que você sentiu foi verdadeiro e que um dia ela passa, como tudo na vida passa.