terça-feira, 26 de novembro de 2013

Detalhes da minha personalidade no momento do assalto

Naquela época, essa característica que existia na minha mãe de não desistir de nada era, também, uma característica minha, porém essa insistência dela me deixava com raiva e com sentimento de impotência; melhor fazer qualquer coisa que ela queria do que de fato dizer que não iria fazer.

Outro detalhe é que achava que resolveria meus problemas sozinha, que, mais cedo ou mais tarde, aquele medo iria passar. Não queria procurar ajuda e nem achava que alguém poderia me ajudar.

E talvez o que mais impactou no momento foi saber que o meu mundinho controlado e perfeito sempre estaria sujeito às mudanças inevitáveis da vida, não tendo eu controle de nada, podendo morrer a qualquer momento.

Todo mundo sabe que a única certeza da vida é a morte, mas quando sentimos de perto essa possibilidade, tudo que você adia começa a ter um peso maior, é como se com esse fato você se desse conta que é isso mesmo: eu posso morrer a qualquer momento!

Um dos meus pensamentos nessa época era que depois que eu passasse em determinado concurso eu começaria a fazer o que eu de fato queria, ou mesmo quando me aposentasse eu faria medicina, algo muito no futuro.E a sensação é que o futuro começa a não ter graça e esperar que algo aconteça começa a ficar sem sentido, foi o primeiro grande choque nos meus paradigmas.

Mais um aspecto a considerar era que eu não ficaria em casa independente do medo que sentia; parece um aspecto bom, e é bom por certo lado: o medo não me paralisava. Não interessaria se eu tinha medo, teria que seguir independente de qualquer sentimento, porque não podia ser frágil. Uma auto-cobrança absurda que estava em quaisquer dos meus atos.
Quero deixar claro que esses detalhes consigo ver agora, depois de anos de terapia, que não foram vistos de forma alguma no momento do assalto.

Observação importante

Um evento corriqueiro como esse me trouxe a uma síndrome do pânico, depois fui para as agulhas, daí à terapia. Hoje agradeço imensamente a insistência da minha mãe e do meu pai, aos assaltantes que me tiraram pela primeira vez do controle, ao medo que senti e a imensa proteção do universo enquanto eu podia matar alguém. É, tudo que aconteceu na minha vida foi importante para mim, fez parte da minha jornada e hoje me dá muita tranqüilidade de falar a respeito.