Naquela época, essa
característica que existia na minha mãe de não desistir de nada era, também, uma
característica minha, porém essa insistência dela me deixava com raiva e com
sentimento de impotência; melhor fazer qualquer coisa que ela queria do que de
fato dizer que não iria fazer.
Outro detalhe é que achava que
resolveria meus problemas sozinha, que, mais cedo ou mais tarde, aquele medo iria
passar. Não queria procurar ajuda e nem achava que alguém poderia me ajudar.
E talvez o que mais impactou no
momento foi saber que o meu mundinho controlado e perfeito sempre estaria
sujeito às mudanças inevitáveis da vida, não tendo eu controle de nada, podendo
morrer a qualquer momento.
Todo mundo sabe que a única
certeza da vida é a morte, mas quando sentimos de perto essa possibilidade,
tudo que você adia começa a ter um peso maior, é como se com esse fato você se
desse conta que é isso mesmo: eu posso morrer a qualquer momento!
Um dos meus pensamentos nessa
época era que depois que eu passasse em determinado concurso eu começaria a
fazer o que eu de fato queria, ou mesmo quando me aposentasse eu faria
medicina, algo muito no futuro.E a sensação é que o futuro começa a não ter
graça e esperar que algo aconteça começa a ficar sem sentido, foi o primeiro
grande choque nos meus paradigmas.
Mais um aspecto a considerar era
que eu não ficaria em casa independente do medo que sentia; parece um aspecto
bom, e é bom por certo lado: o medo não me paralisava. Não interessaria se eu
tinha medo, teria que seguir independente de qualquer sentimento, porque não
podia ser frágil. Uma auto-cobrança absurda que estava em quaisquer dos meus
atos.
Quero deixar claro que esses
detalhes consigo ver agora, depois de anos de terapia, que não foram vistos de
forma alguma no momento do assalto.
Observação importante
Um evento corriqueiro como esse
me trouxe a uma síndrome do pânico, depois fui para as agulhas, daí à terapia.
Hoje agradeço imensamente a insistência da minha mãe e do meu pai, aos
assaltantes que me tiraram pela primeira vez do controle, ao medo que senti e a
imensa proteção do universo enquanto eu podia matar alguém. É, tudo que
aconteceu na minha vida foi importante para mim, fez parte da minha jornada e
hoje me dá muita tranqüilidade de falar a respeito.