O voo
saindo de Cusco com destino a Lima estava marcado para as 5:00 da manhã; então,
às 03:00, começamos nossa viagem de volta ao Brasil. Desde a saída , os
desafios físicos e dificuldades de locomoção começaram. Ainda no hotel, degraus
- alguns grandes , que subi e desci, de
forma aparentemente tranquila, pulando
de muletas ! Chegando na porta de saída do hotel, novo obstáculo : porta
estreita , também pulando e necessitando de ajuda – agora, do motorista de
táxi, que me segurou em suas costas, para que eu pudesse sair.
Rosto
super inchado, com curativos da cirurgia – parecia que tinha levado um murro bem
no olho; dificuldades para sentar – não sabia como aguentaria o dia todo no
avião, era bastante desconfortável a posição. Mesmo um pouco apreensiva, mas
com uma atitude bem positiva , cheguei ao primeiro aeroporto por volta das
03:30 da manhã.
Como
era ainda muito cedo, o check-in ainda não estava disponível e não havia onde
sentar no aeroporto. Fiquei um pouco em pé, até que minha mãe conseguisse uma
cadeira de rodas da companhia aérea – estavam todas com cadeados. Sentei um
tanto a contragosto, mas era realmente necessário.
No
check-in, eu teria que tomar uma série de providências – falar com o atendente
da companhia para pedir auxílio para chegar ao avião e , principalmente, trocar
a cadeira reservada anteriormente por uma com “espaço mais”. Então, às 04:00 hs
o check-in foi aberto. Aparentemente, o meu nome na reserva da companhia estava
errado, o que atrapalharia meu retorno para casa em todos os voos e aeroportos
do trajeto. O atendente, extremamente solícito, ficou conosco até as 04:40 hs,
e nos comunicou da correção dos dados para o primeiro voo, deixando encaminhado
o segundo (forneceu-me um número a ser informado no check-in em Lima) e
colocou-me em uma cadeira “espaço mais” sem me cobrar nada. Foi um outro anjo
em minha vida!
Tudo
transcorreu bem no primeiro voo, rápido e sem grandes desafios. Na chegada à
Lima, solicitei à aeromoça a cadeira de rodas para o desembarque. Então, lá
fomos para o novo check-in, mainha já com todos os bilhetes de embarque até o
Brasil e eu, tendo que fazer um novo a cada aeroporto ( conforme orientação do
atendente em Cusco ).
Quando
no balcão de atendimento, em Lima, mais contratempos. O atendente falou
que por causa do problema no bilhete eu
não viajaria, tendo que permanecer em Lima. Mostrei a ele o relatório médico
que dizia da necessidade da chegada no Brasil e internamento no hospital, disse
que o bilhete estava ali, e que estava correto,
que eu precisava viajar o quanto antes e que teria que trocar as
cadeiras também. Daí lembrei do número que havia recebido em Cusco. Novo
atendente chegou– provavelmente o supervisor
- e , logo depois, eu estava
pagando pelo “espaço mais” e tendo meu embarque liberado . Acabou dando tudo
certo.
No
trajeto para o avião, novo desafio. Teria que ir de ônibus até a nave e subir
escadas . Na espera, o funcionário que estava me conduzindo na cadeira de rodas
começou a falar em Jesus, que o que tinha acontecido comigo era um sinal para
mudança de vida, que também ele tinha sofrido um acidente bem grave e que,
depois, tudo mudou para ele (disse-me também que era pastor de uma igreja). Eu
sabia que isso era um sinal da espiritualidade dizendo : no fim tudo vai ser
bom, espera e verás!
Foram
quatro homens e uma nova cadeira para que eu chegasse no avião. Na hora da
troca dos assentos , esqueci de solicitar o do lado direito da nave – o que
ajudaria nos movimentos de levantar e sentar, quando precisasse. Fiquei então,
no lado esquerdo, junto a um passageiro estrangeiro que, sentado na janela da
minha fila, de tempos em tempos
precisava sair – o voo era mais longo. Nessas horas, senti algumas dores, pelos
movimentos. Ele foi gentil e me ofereceu a janela, mas também não era fácil
ficar por lá – agradeci e fiquei no corredor mesmo.
Chegando
em São Paulo, penúltimo trajeto da viagem, qual a minha alegria! Já me sentia
em casa, poderia falar português e só três horas me separavam agora do meu
destino final – Recife!
No
check-in, nenhuma dificuldade : passagens ok, ganhei o “espaço mais” e fiquei
numa área reservada a pessoas com dificuldades de locomoção, enquanto esperava
o embarque.
Finalmente,
chegamos em Recife; estava em casa! No desembarque, o reencontro com rostos
conhecidos e queridos; era uma quarta-feira, por volta das 23:00 hs, e
esperavam por mim : minha irmã Rafa, minha avó Lygia e tias Lulu, Emília e
Avalty, e Mavy (uma amiga muito querida). Contar a elas tudo como tinha
acontecido era dolorido e também gratificante porque eu estava viva!
Conforme
prometido ao médico de Cusco, do aeroporto fui direto para o hospital!