terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O primeiro contato com a terapia

Meu conceito inicial de psicólogos era que eles eram desajustados, os contatos que tive com alguns em cursos, por exemplo, foram desconfortáveis para mim; eles sempre estavam à flor da pele, cheios de problemas, sensíveis demais. Sempre pensei: “Deus me livre disso, eles não sabem resolver nem os próprios problemas, quanto mais os dos outros”.

Com esses conceitos preconcebidos entrei na minha primeira sessão de terapia, e mais, estava ali a contragosto, então eu não ia facilitar o trabalho de ninguém.

Lembro-me que foram feitas perguntas triviais, respondidas sempre com reservas, sem dizer tudo, apenas o estritamente necessário, estava na defensiva, louca que acabasse aquela conversa fiada.

Não estava vendo como é que os meus medos acabariam com aquela conversa; era mais fácil eu esperar o tempo passar – a minha sorte foi a abertura conseguida com a acupuntura. Estava prestes a sair de lá, conversa sem nexo, eu queria que ela resolvesse logo o meu problema.

Pois bem, ao fim das perguntas ela me disse um monte de informações a meu respeito, informações essas que só conhecia metade, explicou algumas características minhas e deu exemplos de possíveis acontecimentos que poderiam se tornar realidade se eu continuasse agindo daquela maneira.

Uma dessas características foi que eu era uma pessoa programada; vou discorrer sobre esse aspecto, para vocês entenderem o nível de informação que recebi. Lembro-me bem que nessa época se quisessem que eu fosse para algum lugar, tinham que me avisar com antecedência para que eu reservasse a data na agenda, não existia nenhuma possibilidade de eu trocar o compromisso de última hora, eu tinha com certeza a programação de todos os meus passos até o fim do mês.

Ela me disse que esse era um aspecto preocupante porque não havia espaço para o inesperado na minha vida, será que vocês já leram algo parecido nos textos anteriores? E me falou de um caso que o marido estava se separando da esposa por ela ter essa característica ao extremo. Falou de uma situação em que eles iam viajar para algum lugar, no sábado pela manhã, e ele resolveu de última hora mudar para a sexta à noite, e ela não aceitou porque tinha um cabelereiro de manhã. Enfim, muito próximo do que eu era: bem metódica e programada!

Das informações que recebi, conhecia por alto uns cinquenta por cento, o resto eu nem tinha ideia, fiquei intrigada. Como assim uma pessoa que nunca me viu, passa uma hora conversando comigo e sabe mais de mim mesma do que eu própria!
Foi bem rica a sessão em informações sobre mim, mas infelizmente não a escrevi em canto nenhum e esqueci boa parte dela.

Ao final, ela disse que ia usar comigo uma técnica chamada renascimento, e explicou: “ Você vai respirar durante algum tempo na mesma frequência da respiração de um cd que tenho, e vai ficar imóvel, durante esse tempo; se você não se mexer, os seus medos serão apagados”.
Dei uma gargalhada e disse: “ Não acredito em uma só palavra do que você está dizendo, mas se eu fizer sem acreditar, funciona?”, ela respondeu que sim e me deu um site para eu pesquisar acerca do método.

Passei a semana pensando sobre o que ela tinha dito a meu respeito, e cheguei à conclusão de que tudo fazia sentido e tinha uma conexão perfeita com o que eu era naquele momento. De uma certa forma, pelo menos o meu interesse ela já havia despertado.

Não olhei nada do site; prefiro experimentar e ver se acontece, do que estudar a respeito antes, mas de toda forma estava achando tudo fantástico demais para ser verdade e fui lá com o intuito de provar que não ia funcionar.

Fiz tudo como mandavam as regras, não mexi nada, mantive-me respirando, cheguei no espaço onde estariam meus medos e continuei respirando.

Depois que a técnica foi realizada, ela me perguntou como me sentia, disse a ela que estava bem, que tive vontade de coçar as sobrancelhas, mas que permaneci imóvel.

Mandou-me para casa, e eu pensei: “ Não disse, sabia que não ia funcionar!”.

Saí da clínica e parei num sinal amarelo, do lado de muitas motos e estava tirando o celular da bolsa para ligar, então me dei conta que não tinha mais medo, fiquei assustada e feliz. O que tinha acontecido agora é que ela havia ganho de fato a minha confiança e que daí para frente me entregaria sem reservas ao que quer que fosse proposto.


Ela também me havia falado que os sintomas seriam apagados, mas que eu teria que lidar com as causas e resolvê-las; não parecia um problema para mim, estava feliz, estava em contato com um mundo que me intrigava, mas que me mudava.