Meu conceito inicial de psicólogos era que eles eram
desajustados, os contatos que tive com alguns em cursos, por exemplo, foram
desconfortáveis para mim; eles sempre estavam à flor da pele, cheios de
problemas, sensíveis demais. Sempre pensei: “Deus me livre disso, eles não
sabem resolver nem os próprios problemas, quanto mais os dos outros”.
Com esses conceitos preconcebidos entrei na minha primeira
sessão de terapia, e mais, estava ali a contragosto, então eu não ia facilitar
o trabalho de ninguém.
Lembro-me que foram feitas perguntas triviais, respondidas
sempre com reservas, sem dizer tudo, apenas o estritamente necessário, estava
na defensiva, louca que acabasse aquela conversa fiada.
Não estava vendo como é que os meus medos acabariam com
aquela conversa; era mais fácil eu esperar o tempo passar – a minha sorte foi a
abertura conseguida com a acupuntura. Estava prestes a sair de lá, conversa sem
nexo, eu queria que ela resolvesse logo o meu problema.
Pois bem, ao fim das perguntas ela me disse um monte de
informações a meu respeito, informações essas que só conhecia metade, explicou
algumas características minhas e deu exemplos de possíveis acontecimentos que
poderiam se tornar realidade se eu continuasse agindo daquela maneira.
Uma dessas características foi que eu era uma pessoa
programada; vou discorrer sobre esse aspecto, para vocês entenderem o nível de
informação que recebi. Lembro-me bem que nessa época se quisessem que eu fosse
para algum lugar, tinham que me avisar com antecedência para que eu reservasse
a data na agenda, não existia nenhuma possibilidade de eu trocar o compromisso
de última hora, eu tinha com certeza a programação de todos os meus passos até
o fim do mês.
Ela me disse que esse era um aspecto preocupante porque não
havia espaço para o inesperado na minha vida, será que vocês já leram algo
parecido nos textos anteriores? E me falou de um caso que o marido estava se
separando da esposa por ela ter essa característica ao extremo. Falou de uma
situação em que eles iam viajar para algum lugar, no sábado pela manhã, e ele
resolveu de última hora mudar para a sexta à noite, e ela não aceitou porque
tinha um cabelereiro de manhã. Enfim, muito próximo do que eu era: bem metódica
e programada!
Das informações que recebi, conhecia por alto uns cinquenta
por cento, o resto eu nem tinha ideia, fiquei intrigada. Como assim uma pessoa
que nunca me viu, passa uma hora conversando comigo e sabe mais de mim mesma do
que eu própria!
Foi bem rica a sessão em informações sobre mim, mas
infelizmente não a escrevi em canto nenhum e esqueci boa parte dela.
Ao final, ela disse que ia usar comigo uma técnica chamada
renascimento, e explicou: “ Você vai respirar durante algum tempo na mesma
frequência da respiração de um cd que tenho, e vai ficar imóvel, durante esse
tempo; se você não se mexer, os seus medos serão apagados”.
Dei uma gargalhada e disse: “ Não acredito em uma só palavra
do que você está dizendo, mas se eu fizer sem acreditar, funciona?”, ela
respondeu que sim e me deu um site para eu pesquisar acerca do método.
Passei a semana pensando sobre o que ela tinha dito a meu
respeito, e cheguei à conclusão de que tudo fazia sentido e tinha uma conexão
perfeita com o que eu era naquele momento. De uma certa forma, pelo menos o meu
interesse ela já havia despertado.
Não olhei nada do site; prefiro experimentar e ver se
acontece, do que estudar a respeito antes, mas de toda forma estava achando
tudo fantástico demais para ser verdade e fui lá com o intuito de provar que
não ia funcionar.
Fiz tudo como mandavam as regras, não mexi nada, mantive-me
respirando, cheguei no espaço onde estariam meus medos e continuei respirando.
Depois que a técnica foi realizada, ela me perguntou como me
sentia, disse a ela que estava bem, que tive vontade de coçar as sobrancelhas,
mas que permaneci imóvel.
Mandou-me para casa, e eu pensei: “ Não disse, sabia que não
ia funcionar!”.
Saí da clínica e parei num sinal amarelo, do lado de muitas
motos e estava tirando o celular da bolsa para ligar, então me dei conta que
não tinha mais medo, fiquei assustada e feliz. O que tinha acontecido agora é
que ela havia ganho de fato a minha confiança e que daí para frente me
entregaria sem reservas ao que quer que fosse proposto.
Ela também me havia falado que os sintomas seriam apagados,
mas que eu teria que lidar com as causas e resolvê-las; não parecia um problema
para mim, estava feliz, estava em contato com um mundo que me intrigava, mas
que me mudava.