Antes de relatar os problemas que meus comportamentos
totalmente concessivos trouxeram para mim, gostaria de dizer que meu pai, que,
hoje, já não se encontra nesse nosso plano físico, foi um exemplo de muitos
atributos que admiro demais, atributos esses que copiei, e que são umas das
minhas melhores características.
Ele tinha uma coragem incrível, o medo do novo não era tão
presente nele, era desbravador, não importava o tamanho dos obstáculos, ele
sempre ia atrás do que queria, a força de vontade dele era adorável. Essas
características são tão minhas!
Agora passemos às situações que enfrentei por não saber
dizer não e por querer ser admirada por ele, lembrando que o amo de coração e
só tenho a agradecer o tempo que passei com ele em vida.
Quando eu tinha uns doze anos, a empresa que meu pai era
sócio não deu certo e depois disso, ele tentou de várias formas se reerguer,
mas de fato era difícil sem capital e com o nome sujo.
Meu pai tinha problema de obesidade e antes mesmo que eu tivesse
um automóvel, assim que comecei a trabalhar, comprei para ele um carro
financiado no meu nome, que quem acabou pagando fui eu, pois ele não poderia
trabalhar sem esse meio de transporte. Essa foi a justificativa que engoli, mas
devo ter feito isso porque sempre quis ser valorizada por ele.
Entre multas, IPVA e parcelas do financiamento, ele deixava
meu irmão dirigir o carro, mesmo quando ele saia para beber; eu ficava com
muita raiva, mas não conseguia dar limites a ele.
Lembro-me de sempre estar cobrindo as besteiras que ele
fazia, revezávamos nessa função eu e minha mãe. Quando estava com algum
dinheiro no banco, ele sempre se prestava para cobrir as dívidas que meu pai
fazia, muitas vezes fiquei com medo de ele ser morto; nessas horas ele vinha docinho,
falando manso; chega me dava um arrepio, sabia que algo vinha e que não era
bom!
O universo sempre traz à tona o que precisamos mudar, quando
de fato queremos mudar algo em nossas vidas. A minha relação com meu pai sempre
foi de muitas concessões da minha parte e nesse momento teve um acontecimento que
foi bastante forte para mim e que fez eu dar limites a ele: a troca feita por
ele, de um carro que estava em meu nome, levou-me a sérios problemas judiciais.
Que fria eu tinha me metido por não dizer não e querer ser vista!
Depois dessa situação extrema, resolvi que ele não era mais
dono do carro que paguei, que o carro se voltasse para mim, não ficaria mais
com ele, e que nunca mais ele ia usar meu nome para nada.
Senti muita
raiva por eu ter me levado a essa situação! Essa emoção me impulsionou a dizer
não para ele e arcar com a perda de sua admiração, que era o que eu sempre
quis. Aprendi a deixar de ser a " boazinha " e me valorizar mais
e, também, a dizer não, antes que as situações se tornassem extremas como essa!