Com uma breve introdução ao trabalho, minha terapeuta falou
que o tema do residencial era a gratidão e sugeriu que a partir daquele momento
agradecêssemos a tudo que nos acontecesse de bom ou de ruim. A idéia era
simples: incorporar a frase “eu agradeço” na maioria dos nossos momentos lá.
Depois teríamos que nos apresentar, mas não era uma
apresentação comum, tinha que ser fazendo algo ridículo, só iria valer se fosse
vergonhoso, senão repetiríamos até que assim ficasse; olha, foi bem diferente
de tudo que fiz na vida, era tímida e todos estavam prestando atenção; foi bem
desafiador! Não tinha como fugir, então fiz minha performance e ela foi aceita.
Foi sugerido que desligássemos os celulares enquanto
estivéssemos lá, que esquecêssemos do mundo lá fora, ou seja, celulares só
seriam permitidos nos intervalos, mas que seria melhor que não o usássemos.
Essa sugestão não estava disposta a cumprir integralmente, mas só iria desobedecê-la
uma vez por dia.
Ela deu uma idéia geral do que iríamos conhecer na chapada,
mas frisou que isso não era o mais importante da viagem e que todas as vezes
que estivéssemos fora, teríamos atividades para fazer lá também, não seriam
simples visitas.
Disse que existia uma possibilidade de um ritual chamado
tenda do suor com um xamã, mas que só iria acontecer se todos topassem, que
tinha um valor adicional. Particularmente não sabia do que se tratava, não
gostava de ser a pessoa que desagradava todo mundo, mas também não gostava de
participar de algo obrigada - estava no meu primeiro dilema: resolvi aceitar,
desagradar a todos não estava dentro do que queria para mim e estava pronta
para fazer.
Falou das refeições que deveriam ser feitas no hotel, que a
alimentação desintoxicante fazia parte do processo terapêutico, possibilitando
uma maior absorção do que era proposto a título de meditação e conversas. Ainda
estava pensando em burlar essa regra, mas não tinha idéia do quanto estávamos
longe de Lençóis.
Já deu para ver que algo iria modificar em mim, estaria
exposta a novos comportamentos durante esses dias, isso me dava um frio na
barriga.
Como já havia mencionado em postagens anteriores, tinha uma
admiração pela minha terapeuta e pelo que ela sabia. Nessa primeira atividade
ela leu um trecho de um livro no salão e dei um jeito de descobrir quem era o
autor. Tratava-se de OSHO. Foi a forma que descobri de me apropriar de onde
viriam as inspirações dela.
Os nossos dias seriam da seguinte forma: meditação antes do
café da manhã; saídas pela manhã voltando só à noite ou saídas depois do almoço,
o resto do tempo seriam de atividades no salão. Porém como ela frisou tudo isso
poderia mudar a todo e qualquer momento.
As atividades externas seriam ir para uma gruta, pôr do sol
no morro do Pai Inácio, ir no Serrano, no Ribeirão do Meio, e, no Vale do Capão,
aconteceria o ritual xamânico.
Havia uma variação de faixa etária enorme entre os
componentes do grupo: tinha gente de 15 e também de 70 anos; óbvio que conciliar
as vontades de todos era impossível. Então teríamos um grupo respeitando as
diferenças, onde todos pudessem fazer o que seria proposto em cada atividade.
Disciplina e seriedade eram duas características bem fortes
em mim, não estava ali para brincar. Ia me jogar de corpo e alma em tudo!
Era a minha estréia em quase tudo: ir numa gruta, subir um
morro, andar numa trilha, participar de um ritual xamânico, fazer meditação.
Importante mencionar que tinha medo de tudo: de avião; de
lugar fechado, de altura, de estar na posição de chamar atenção, de bichos, da mata
em geral.
O desafio estaria presente em todo momento, mas eu estava lá e não ia amarelar não!
O desafio estaria presente em todo momento, mas eu estava lá e não ia amarelar não!