terça-feira, 16 de setembro de 2014

Nossa primeira atividade no salão

Com uma breve introdução ao trabalho, minha terapeuta falou que o tema do residencial era a gratidão e sugeriu que a partir daquele momento agradecêssemos a tudo que nos acontecesse de bom ou de ruim. A idéia era simples: incorporar a frase “eu agradeço” na maioria dos nossos momentos lá.

Depois teríamos que nos apresentar, mas não era uma apresentação comum, tinha que ser fazendo algo ridículo, só iria valer se fosse vergonhoso, senão repetiríamos até que assim ficasse; olha, foi bem diferente de tudo que fiz na vida, era tímida e todos estavam prestando atenção; foi bem desafiador! Não tinha como fugir, então fiz minha performance e ela foi aceita.

Foi sugerido que desligássemos os celulares enquanto estivéssemos lá, que esquecêssemos do mundo lá fora, ou seja, celulares só seriam permitidos nos intervalos, mas que seria melhor que não o usássemos. Essa sugestão não estava disposta a cumprir integralmente, mas só iria desobedecê-la uma vez por dia.

Ela deu uma idéia geral do que iríamos conhecer na chapada, mas frisou que isso não era o mais importante da viagem e que todas as vezes que estivéssemos fora, teríamos atividades para fazer lá também, não seriam simples visitas.

Disse que existia uma possibilidade de um ritual chamado tenda do suor com um xamã, mas que só iria acontecer se todos topassem, que tinha um valor adicional. Particularmente não sabia do que se tratava, não gostava de ser a pessoa que desagradava todo mundo, mas também não gostava de participar de algo obrigada - estava no meu primeiro dilema: resolvi aceitar, desagradar a todos não estava dentro do que queria para mim e estava pronta para fazer.

Falou das refeições que deveriam ser feitas no hotel, que a alimentação desintoxicante fazia parte do processo terapêutico, possibilitando uma maior absorção do que era proposto a título de meditação e conversas. Ainda estava pensando em burlar essa regra, mas não tinha idéia do quanto estávamos longe de Lençóis.

Já deu para ver que algo iria modificar em mim, estaria exposta a novos comportamentos durante esses dias, isso me dava um frio na barriga.

Como já havia mencionado em postagens anteriores, tinha uma admiração pela minha terapeuta e pelo que ela sabia. Nessa primeira atividade ela leu um trecho de um livro no salão e dei um jeito de descobrir quem era o autor. Tratava-se de OSHO. Foi a forma que descobri de me apropriar de onde viriam as inspirações dela.

Os nossos dias seriam da seguinte forma: meditação antes do café da manhã; saídas pela manhã voltando só à noite ou saídas depois do almoço, o resto do tempo seriam de atividades no salão. Porém como ela frisou tudo isso poderia mudar a todo e qualquer momento.

As atividades externas seriam ir para uma gruta, pôr do sol no morro do Pai Inácio, ir no Serrano, no Ribeirão do Meio, e, no Vale do Capão, aconteceria o ritual xamânico.

Havia uma variação de faixa etária enorme entre os componentes do grupo: tinha gente de 15 e também de 70 anos; óbvio que conciliar as vontades de todos era impossível. Então teríamos um grupo respeitando as diferenças, onde todos pudessem fazer o que seria proposto em cada atividade.

Disciplina e seriedade eram duas características bem fortes em mim, não estava ali para brincar. Ia me jogar de corpo e alma em tudo!

Era a minha estréia em quase tudo: ir numa gruta, subir um morro, andar numa trilha, participar de um ritual xamânico, fazer meditação.

Importante mencionar que tinha medo de tudo: de avião; de lugar fechado, de altura, de estar na posição de chamar atenção, de bichos, da mata em geral.

O desafio estaria presente em  todo momento, mas eu estava lá e não ia amarelar não!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Primeiros momentos da Chapada

Não tinha a mínima idéia do que me esperaria por lá. Minha mãe como de costume me levou para o aeroporto. Lá, ela encontrou duas pessoas que ela conhecia do trabalho dela; já não fiquei tão só.

Em Salvador, no aeroporto, a primeira surpresa: a comida dos cinco dias seria completamente vegetariana! E adivinhem só, nessa época, não comia verduras. Foi um pouco desesperador, mas ainda pensei que poderia comer em outro lugar, ou mesmo, as duas caixas de barras de cereal que tinha levado.

Pegamos o ônibus em direção a Lençóis. Muitas pessoas que já haviam feito grupos com a minha terapeuta estavam na expectativa do que ia acontecer, imagine eu!

Fiquei ao lado de uma garota que tinha acabado de conhecer, com quem conversei um pouco enquanto viajávamos. Seria confortável para mim ficar no mesmo quarto dela, mas não aconteceu.

Chegamos de manhã na pousada onde iríamos ficar, e logo de cara uma senhora ladeira para subir; subiríamos e desceríamos toda vez que fossemos para os passeios. A primeira coisa que pensei: “vai ser difícil comprar comida fora!”.

Os chalés eram coletivos e fiquei com mais quatro mulheres nele. Hoje, sou um pouco mais organizada, mas nesse momento eu era bem bagunceira. E o chalé de fato não era muito grande, não tinha espaço para eu desfazer a mala, que nessa época, tinha muitas roupas porque não sabia o que usar, era insegura em relação ao que vestir.  

Chegamos bem cedinho, tínhamos uma hora para tomar um banho e descer para tomar café. Tinha muita gente para usar um banheiro só. Logo vi que era melhor acordar mais cedo, pois não demorava muito no banho e nem gostava de chegar atrasada. As estratégias de sobrevivência já estavam sendo montadas.

A propósito das minhas características, gostava de uma programação, mas logo vi que com a minha terapeuta, nenhuma programação seria respeitada, porque tudo aconteceria de acordo com o momento.

O grupo era formado mais por mulheres que por homens, o que é uma tônica geral. Parece que as mulheres se preocupam mais em se conhecer, ou pelo menos assumem que têm problemas.

Era um feriadão de sete de setembro, então estava na Chapada, e tinha deixado lá em Recife, meu namorado.  Eu não assumia que tinha ciúmes, mas eu tinha e não foi muito confortável deixa-lo lá! Fiquei de ligar para ele todo dia, embora não soubesse em que horário poderia fazê-lo.


Cheia de desafios pela frente, longe de tudo e de todos, sendo posta em várias situações desconfortáveis, sem tempo para racionalizar o que acontecia, só uma pergunta ficava na minha mente: Onde fui me meter? Porém estava na Chapada e estava muito feliz de estar lá, nada mudaria isso dentro de mim!