terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Ribeirão do meio e Serrano

Enquanto estávamos nos dirigindo para o início da trilha, dentro do ônibus, escutávamos a música tema do grupo, era meio que um mantra repetindo a frase: “eu agradeço”.  Eu gosto de coisas repetitivas, adorei a música e até hoje me lembro dela, muitas pessoas acharam ruim, de ter que ficar cantando ela.

Quem já foi à chapada sabe que não são trilhas difíceis, quase não tem dificuldade, são trilhas abertas; estávamos com guias, a única dificuldade era realizar as duas no mesmo dia, uma pela manhã e a outra à tarde, que particularmente eu gostei muito porque era viciada em atividades.

O silêncio era para continuar durante a trilha e a esta altura já estava mais enturmada, então acabei esquecendo essa regra e fui repreendida algumas vezes por integrantes do próprio grupo, que queriam obedecer às regras.

Primeiro foi Ribeirão do Meio; é uma trilha longa, de algumas horas de caminhada. O final dela, dá numa grande piscina natural com um tobogã de pedras, para quem quiser escorregar nele.

A água de lá é muito gelada e passei um tempo até mergulhar; muita gente não o fez, era tranqüilo se não quisesse mergulhar, mas aos pouquinhos fui entrando e foi ótimo o banho. Escorregar não estava nos meus planos, tinha que subir pelas pedras e depois podia me machucar descendo.

Já fui outras vezes lá depois dessa chapada, mas ainda não escorreguei, muita gente ousada por lá que escorregou de todo jeito, o medo para mim era maior nesse caso, achava que não valia à pena a emoção, até porque ia entrar na água gelada de vez.

Demoramos mais que o esperado pelo guia, então seguimos para o Serrano sem almoçar, apenas com duas barrinhas de cereais; eu tinha mais barrinhas na bolsa, enfim eu não estava com fome. Porém foi motivo de reclamação pela maior parte do grupo e fruto de reflexão posterior quanto ao que acontece quando os planos mudam, podemos reclamar ou simplesmente aceitar e agradecer.

O Serrano é um monte de piscinas naturais no alto, bem legal, tinha também o salão de areias, que foi opcional. Fiquei lá por cima: não foi fácil decidir, a minha insegurança de novo, medo de perder algo, só que em qualquer escolha se perde algo.

Chegamos cansados, com fome e, mesmo com a rampa da pousada, estavam todos cantando: eu agradeço! Foi muito legal essa energia, curti muito!


sábado, 18 de outubro de 2014

Nossa Meditação Matinal

Muito cedo ainda íamos ao salão para a nossa meditação matinal, em jejum e sem banho, porque íamos suar. Hoje, realmente não me lembro de todas as meditações que foram utilizadas na época; todas eram novas para mim, estranhas até!

Eram meditações ativas de OSHO, tais como a kundaline e chakra breathing, e outras construídas pela minha terapeuta. Fiz as meditações me achando a maior extraterrestre. Como teve gente que algumas vezes ficou só olhando e outras que não chegavam a tempo de fazê-las, se eu quisesse também poderia fugir.

Mas a proposta era pelo menos tentar. Fi-las com a entrega que tinha naquele momento, com o medo de estar fazendo errado, então de vez em quando abria os olhos para checar se estava certo. Quando sentia uma dor, diminuía o ritmo; enfim, não foi entrega total!

Mais uma vez parecia muito ridículo aquilo; tive vergonha, mas todo mundo estava fazendo, fiz também!

Hoje sei o tamanho da transformação que pode acontecer com essas ferramentas, o quanto se quebra de condicionamentos com elas, são excelentes para mudança, só que tem um detalhe, nunca sabemos o que vamos mudar, simplesmente mudamos, daí num primeiro momento a expectativa de quem já conhecia o trabalho.

De toda forma suava bastante, era boa como atividade aeróbica - que eu adorava nessa época, servia para experimentar coisas novas e ter o que contar, por exemplo.

As meditações de OSHO foram cientificamente elaboradas para nós que pensamos muito e não conseguimos parar a mente; então a idéia é esgotar o corpo e depois relaxar: nesse relaxamento, acontece a meditação.


Olha, a cada dia ficava mais intrigada com o que ia acontecer nesse momento matinal, sempre era uma surpresa nova, totalmente fora dos meus parâmetros; foi muito bom para o meu medo do novo.

sábado, 4 de outubro de 2014

Primeira trilha na própria pousada e almoço

Nossa primeira caminhada se deu logo depois de nossa apresentação no salão, a proposta para a trilha era irmos em silêncio e agradecendo a tudo que encontrássemos por lá.  Era uma trilha longa para iniciantes e com alguns obstáculos, nada muito difícil, mas para mim era tudo novo.

De uma forma geral, diante de um desafio, gostava de me distrair conversando e reclamando de tudo. Como tive que ficar em silêncio, não pude usar essa estratégia para não sentir as minhas dificuldades. Porém o não falar não impediu que existissem as reclamações internas.

Tirei algumas fotos, era uma forma de me distrair, queria tirar fotos minhas, mas não gostava de pedir e tirei apenas aquelas que me ofereceram.

No meio da trilha paramos todos e cada um escolheu uma árvore para abraçar, a proposta era abraçar a árvore por um tempo. Depois dessa vivência, seguimos mais um pouco e chegamos num lugar que teve um banho, o lugar era lindo. Tive dificuldade de ficar de biquíni por causa da vergonha: achava que meu corpo não estava bem, tudo fruto de minha imaginação e perfeccionismo.

Voltei rápido, queria tomar banho primeiro, para que pudesse almoçar em outro lugar; não deu certo, uma das meninas já estava por lá e o jeito foi encarar o almoço do hotel.

Então já para o banho e depois o almoço, eu realmente não comia verduras de espécie alguma e era bem rígida nisso, não quis nem experimentar! Sobraram para mim bananas e arroz integral, que também não comia, mas pelo menos não eram verduras.  Comia e chorava ao mesmo tempo. Não gostava que ninguém me visse chorando, então as lágrimas caiam na ponta dos olhos.

Uma das pessoas da mesa falou que eu estava chorando e perguntou o porquê, era tudo que eu não queria - chamar atenção - mas foi o que aconteceu! E agora todos queriam ajudar, disseram que eu guardasse um pão do café da manhã, e comecei a fazer dessas coisas.

Porém o que de fato aconteceu ali foi que estava sendo privada de comer o que gostava e eu tinha feito uma promessa a mim que isso nunca mais ia acontecer, e quando menos eu espero, aconteceu de novo e eu não pude fugir disso.

Essa promessa tinha sido feita quando eu tinha doze anos; ficamos nessa época morando na casa de vovó que nos acolheu. Porém, por um ano, não tínhamos dinheiro e a comida era escassa. Queria evitar essa sensação de impotência que eu estava vivendo de novo: privação de comida!

Além disso, não queria que ninguém me visse chorar e meio que essa pessoa  expôs  o meu problema, pelo menos a todos que estavam na mesa.  Foi uma situação difícil logo no início. Uma invasão que nem percebi como tal.

No salão comentamos o que experimentamos na vivência toda, ainda hoje tenho dificuldades de expressar o que sinto plenamente com a voz, naquela época mais ainda, então falei bem pouquinho, doida que acabasse logo.

Porém alguns depoimentos me chamaram atenção, pois eles expressavam o que as pessoas sentiam; uma delas sentiu-se em comunhão com a árvore, de forma que ela e a árvore era um só ser, outra pessoa sentiu que uma ventania que teve por lá era uma resposta da natureza; expressões como essas, faziam que eu exigisse de mim algo que não estava pronta para dar.


Queria estar naquela sintonia, mas não era verdade, o caminho a trilhar estava apenas começando!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Nossa primeira atividade no salão

Com uma breve introdução ao trabalho, minha terapeuta falou que o tema do residencial era a gratidão e sugeriu que a partir daquele momento agradecêssemos a tudo que nos acontecesse de bom ou de ruim. A idéia era simples: incorporar a frase “eu agradeço” na maioria dos nossos momentos lá.

Depois teríamos que nos apresentar, mas não era uma apresentação comum, tinha que ser fazendo algo ridículo, só iria valer se fosse vergonhoso, senão repetiríamos até que assim ficasse; olha, foi bem diferente de tudo que fiz na vida, era tímida e todos estavam prestando atenção; foi bem desafiador! Não tinha como fugir, então fiz minha performance e ela foi aceita.

Foi sugerido que desligássemos os celulares enquanto estivéssemos lá, que esquecêssemos do mundo lá fora, ou seja, celulares só seriam permitidos nos intervalos, mas que seria melhor que não o usássemos. Essa sugestão não estava disposta a cumprir integralmente, mas só iria desobedecê-la uma vez por dia.

Ela deu uma idéia geral do que iríamos conhecer na chapada, mas frisou que isso não era o mais importante da viagem e que todas as vezes que estivéssemos fora, teríamos atividades para fazer lá também, não seriam simples visitas.

Disse que existia uma possibilidade de um ritual chamado tenda do suor com um xamã, mas que só iria acontecer se todos topassem, que tinha um valor adicional. Particularmente não sabia do que se tratava, não gostava de ser a pessoa que desagradava todo mundo, mas também não gostava de participar de algo obrigada - estava no meu primeiro dilema: resolvi aceitar, desagradar a todos não estava dentro do que queria para mim e estava pronta para fazer.

Falou das refeições que deveriam ser feitas no hotel, que a alimentação desintoxicante fazia parte do processo terapêutico, possibilitando uma maior absorção do que era proposto a título de meditação e conversas. Ainda estava pensando em burlar essa regra, mas não tinha idéia do quanto estávamos longe de Lençóis.

Já deu para ver que algo iria modificar em mim, estaria exposta a novos comportamentos durante esses dias, isso me dava um frio na barriga.

Como já havia mencionado em postagens anteriores, tinha uma admiração pela minha terapeuta e pelo que ela sabia. Nessa primeira atividade ela leu um trecho de um livro no salão e dei um jeito de descobrir quem era o autor. Tratava-se de OSHO. Foi a forma que descobri de me apropriar de onde viriam as inspirações dela.

Os nossos dias seriam da seguinte forma: meditação antes do café da manhã; saídas pela manhã voltando só à noite ou saídas depois do almoço, o resto do tempo seriam de atividades no salão. Porém como ela frisou tudo isso poderia mudar a todo e qualquer momento.

As atividades externas seriam ir para uma gruta, pôr do sol no morro do Pai Inácio, ir no Serrano, no Ribeirão do Meio, e, no Vale do Capão, aconteceria o ritual xamânico.

Havia uma variação de faixa etária enorme entre os componentes do grupo: tinha gente de 15 e também de 70 anos; óbvio que conciliar as vontades de todos era impossível. Então teríamos um grupo respeitando as diferenças, onde todos pudessem fazer o que seria proposto em cada atividade.

Disciplina e seriedade eram duas características bem fortes em mim, não estava ali para brincar. Ia me jogar de corpo e alma em tudo!

Era a minha estréia em quase tudo: ir numa gruta, subir um morro, andar numa trilha, participar de um ritual xamânico, fazer meditação.

Importante mencionar que tinha medo de tudo: de avião; de lugar fechado, de altura, de estar na posição de chamar atenção, de bichos, da mata em geral.

O desafio estaria presente em  todo momento, mas eu estava lá e não ia amarelar não!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Primeiros momentos da Chapada

Não tinha a mínima idéia do que me esperaria por lá. Minha mãe como de costume me levou para o aeroporto. Lá, ela encontrou duas pessoas que ela conhecia do trabalho dela; já não fiquei tão só.

Em Salvador, no aeroporto, a primeira surpresa: a comida dos cinco dias seria completamente vegetariana! E adivinhem só, nessa época, não comia verduras. Foi um pouco desesperador, mas ainda pensei que poderia comer em outro lugar, ou mesmo, as duas caixas de barras de cereal que tinha levado.

Pegamos o ônibus em direção a Lençóis. Muitas pessoas que já haviam feito grupos com a minha terapeuta estavam na expectativa do que ia acontecer, imagine eu!

Fiquei ao lado de uma garota que tinha acabado de conhecer, com quem conversei um pouco enquanto viajávamos. Seria confortável para mim ficar no mesmo quarto dela, mas não aconteceu.

Chegamos de manhã na pousada onde iríamos ficar, e logo de cara uma senhora ladeira para subir; subiríamos e desceríamos toda vez que fossemos para os passeios. A primeira coisa que pensei: “vai ser difícil comprar comida fora!”.

Os chalés eram coletivos e fiquei com mais quatro mulheres nele. Hoje, sou um pouco mais organizada, mas nesse momento eu era bem bagunceira. E o chalé de fato não era muito grande, não tinha espaço para eu desfazer a mala, que nessa época, tinha muitas roupas porque não sabia o que usar, era insegura em relação ao que vestir.  

Chegamos bem cedinho, tínhamos uma hora para tomar um banho e descer para tomar café. Tinha muita gente para usar um banheiro só. Logo vi que era melhor acordar mais cedo, pois não demorava muito no banho e nem gostava de chegar atrasada. As estratégias de sobrevivência já estavam sendo montadas.

A propósito das minhas características, gostava de uma programação, mas logo vi que com a minha terapeuta, nenhuma programação seria respeitada, porque tudo aconteceria de acordo com o momento.

O grupo era formado mais por mulheres que por homens, o que é uma tônica geral. Parece que as mulheres se preocupam mais em se conhecer, ou pelo menos assumem que têm problemas.

Era um feriadão de sete de setembro, então estava na Chapada, e tinha deixado lá em Recife, meu namorado.  Eu não assumia que tinha ciúmes, mas eu tinha e não foi muito confortável deixa-lo lá! Fiquei de ligar para ele todo dia, embora não soubesse em que horário poderia fazê-lo.


Cheia de desafios pela frente, longe de tudo e de todos, sendo posta em várias situações desconfortáveis, sem tempo para racionalizar o que acontecia, só uma pergunta ficava na minha mente: Onde fui me meter? Porém estava na Chapada e estava muito feliz de estar lá, nada mudaria isso dentro de mim!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Convite para o meu primeiro grupo residencial

Eu queria muito conhecer a chapada, já fazia parte dos meus planos, só não sabia como, tinha visto umas fotos de um grupo lá na terapia na chapada, pensei: “quando tiver eu vou!”.

Cheguei na minha sessão e recebi o convite para ir para a chapada, era um convite de última hora: teria que comprar a passagem no mesmo dia, sem mais perguntas; fui lá e comprei!

Estava feliz que eu ia para lá e nem pensei em nada, no meu namorado, no que ia dizer em casa, o que eu queria mesmo era ir.

Era um grupo cujo foco era o processo terapêutico, mas o que eu queria mesmo era conhecer o lugar, já estava também interessada na terapia, queria saber também o que aconteceria em cinco dias intensivos de grupo.

Eu já havia dormido fora de casa, mas sempre para fazer concursos ou quando estava no curso de formação do meu atual trabalho, nunca para me divertir, sem conhecer ninguém; deu medo, mas a minha vontade de conhecer o lugar era muito maior.

Quando contei para meu namorado, ele não disse nada, claro que não pedi permissão, apenas comuniquei que ia, mas foi bem difícil falar, porque tinha muito medo de ser rejeitada. Ele não tinha achado bom, mas também não disse nada, sabia que ia ter problemas na volta, mas queria ir ainda assim.

Tenho essa característica; se algo me atrai, eu não penso duas vezes, eu simplesmente me jogo, mesmo que depois eu tenha que lidar com alguns desconfortos.

Estava também na fase da terapia de não fazer concessões, então por mais difícil que fosse, eu comecei a fazer o que queria.


Sempre que me deparo com algo que nunca fiz, sempre que o novo vai se apresentar, eu tenho alguns sintomas: meu grau de ansiedade aumenta, minha respiração fica ofegante, tenho prisão de ventre, fico numa euforia. Esses sintomas estão seguramente melhores agora, então lido com maior tranqüilidade com as mudanças da vida.  

sábado, 28 de junho de 2014

Problemas com o meu pai


Antes de relatar os problemas que meus comportamentos totalmente concessivos trouxeram para mim, gostaria de dizer que meu pai, que, hoje, já não se encontra nesse nosso plano físico, foi um exemplo de muitos atributos que admiro demais, atributos esses que copiei, e que são umas das minhas melhores características.

Ele tinha uma coragem incrível, o medo do novo não era tão presente nele, era desbravador, não importava o tamanho dos obstáculos, ele sempre ia atrás do que queria, a força de vontade dele era adorável. Essas características são tão minhas!

Agora passemos às situações que enfrentei por não saber dizer não e por querer ser admirada por ele, lembrando que o amo de coração e só tenho a agradecer o tempo que passei com ele em vida.

Quando eu tinha uns doze anos, a empresa que meu pai era sócio não deu certo e depois disso, ele tentou de várias formas se reerguer, mas de fato era difícil sem capital e com o nome sujo.

Meu pai tinha problema de obesidade e antes mesmo que eu tivesse um automóvel, assim que comecei a trabalhar, comprei para ele um carro financiado no meu nome, que quem acabou pagando fui eu, pois ele não poderia trabalhar sem esse meio de transporte. Essa foi a justificativa que engoli, mas devo ter feito isso porque sempre quis ser valorizada por ele.

Entre multas, IPVA e parcelas do financiamento, ele deixava meu irmão dirigir o carro, mesmo quando ele saia para beber; eu ficava com muita raiva, mas não conseguia dar limites a ele.

Lembro-me de sempre estar cobrindo as besteiras que ele fazia, revezávamos nessa função eu e minha mãe. Quando estava com algum dinheiro no banco, ele sempre se prestava para cobrir as dívidas que meu pai fazia, muitas vezes fiquei com medo de ele ser morto; nessas horas ele vinha docinho, falando manso; chega me dava um arrepio, sabia que algo vinha e que não era bom!

O universo sempre traz à tona o que precisamos mudar, quando de fato queremos mudar algo em nossas vidas. A minha relação com meu pai sempre foi de muitas concessões da minha parte e nesse momento teve um acontecimento que foi bastante forte para mim e que fez eu dar limites a ele: a troca feita por ele, de um carro que estava em meu nome, levou-me a sérios problemas judiciais. Que fria eu tinha me metido por não dizer não e querer ser vista!

Depois dessa situação extrema, resolvi que ele não era mais dono do carro que paguei, que o carro se voltasse para mim, não ficaria mais com ele, e que nunca mais ele ia usar meu nome para nada.

Senti muita raiva por eu ter me levado a essa situação! Essa emoção me impulsionou a dizer não para ele e arcar com a perda de sua admiração, que era o que eu sempre quis. Aprendi a deixar de ser a " boazinha " e me valorizar mais e, também, a dizer não, antes que as situações se tornassem extremas como essa!

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Novo amor com novos momentos

Logo depois que comecei minhas desconstruções, encontrei no face de uma amiga, o face de um antigo amor, amor da adolescência; adicionei e postei uma mensagem. Fazia catorze anos que a gente não se via, ele tinha ido morar em outra cidade.

Então, trocamos telefone, e ele ligou para mim. Minhas pernas tremiam, não entendia como isso podia ser, como só ouvir a voz de alguém poderia trazer tamanha emoção para mim.

Na adolescência não namoramos, apenas ficamos algumas vezes, e de fato foi muito bom revê-lo, sentir tudo aquilo que uma paixão pode trazer, era como se o tempo tivesse parado, ele continuava lindo e eu tinha mudado muito pouco do que ele conheceu.

Começamos um namoro, ele era do tipo fora dos padrões aceitáveis pela minha família, mas fechava com tudo que queria para mim; sei lá, vivemos momentos muito intensos, gostávamos de cachoeiras, de trilhas e de praias, então fizemos muitos passeios para esses lugares.

Vivia em conflito por ele não ser o esperado pela minha família e por me sentir tão bem ao seu lado.

Namoramos um ano mais ou menos, ele acompanhou minha primeira fase de terapia, e de uma certa forma ele também era para onde olhava quando estava com muitos conflitos, meio que uma mistura de porto seguro e rota de fuga.

Ele me ensinou algo muito especial: não viver o amanhã até ele chegar, o que mexia com a minha ansiedade.

Nossas viagens eram sempre curtas porque ainda não dormia fora de casa para não desapontar meus pais.

Lembro-me da sensação de estar vivendo algo muito especial que não me achava merecedora para tanto.


terça-feira, 29 de abril de 2014

Primeira desconstrução terapêutica: parar de carregar o mundo nas costas!


Como já comentei o medo que estava sentindo havia me deixado, porém eu tinha muitos outros problemas, o medo de morrer era apenas um deles.

E o começo da desconstrução foi a partir dele, tive que responder às perguntas: porque eu tinha tanto medo de morrer? O que eu achava que ia acontecer se eu morresse?

Essas perguntas me levaram à conclusão de que tinha gente demais que dependia de mim, que eu carregava nas costas - diga-se de passagem, nossas costas só aguentam os nossos problemas, sempre que ousamos colocar outros problemas que não os nossos, danificamos o nosso corpo, corpo esse, que precisamos para tudo que quisermos fazer na vida.

É óbvio que não se cumpre essa tarefa assim por completo logo no primeiro momento. Podemos nos comparar a uma cebola, em que vamos tirando cada casca de uma vez, apenas a parte grosseira dessa desconstrução foi feita, e hoje, ainda, tenho que tomar cuidado, porque às vezes me pego carregando problemas que não são meus, então é importante dizer que tudo que enxergamos como parâmetro de mudança, tem que permanecer como foco constante de nossa atenção, pois passamos uma vida baseada nos antigos padrões e tendemos sempre voltar para eles.

Eu me achava mega importante porque podia ajudar as pessoas, achava inclusive que era para isso que o dinheiro servia, e que pouco importava se fosse faltar para mim, ficava feliz com a alegria da outra pessoa, isso me confortava.

Eu precisava ser a queridinha, a boazinha, a que sempre ajuda, vivia os problemas dos outros para não enxergar os meus, por isso que sempre estava exausta e lisa.

Então esse problema leva a outro; fazia concessões demais, dizia sim, quando na verdade queria dizer não, e ficava com raiva depois, cobrando da pessoa para a qual fiz concessão.

A desconstrução vem justo no dizer não para o que não se quer fazer, por exemplo, tomei posse do meu carro, ele agora era meu, e só emprestava quando eu não fosse usar, não tinha essa história de reservar o carro antes.

É claro que isso traz um desconforto, a pessoa que sempre recebeu um sim, fica transtornada quando começa a receber um não, e a queridinha passa a ser a imprestável, egoísta.

Mas é como se você estivesse numa tempestade; é incômodo, mas passa, e na sua vida sempre tem outras coisas boas acontecendo, então é só mudar o foco de atenção. Dá vontade de voltar atrás, nessas horas é bem importante ter uma terapeuta que te ajude a passar por esse momento de mudança, depois as pessoas acabam por se acostumar com a sua nova versão e lhe respeitam mais.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Como estava minha vida no início da terapia

Morava com os meu pais, sem nenhuma intenção de me mudar, tinha ajudado a comprar o apartamento e achava que ele era meu também. Minha mãe sempre me deixou “confortável” por lá; é verdade que não é como se ter a própria casa, não podia fazer festas, nem era muito tranquilo levar alguém para dormir por lá.

Não podia dormir fora de casa com um namorado, não era verdade que eles gostavam que eu dormisse fora de casa também.

Se alguém precisasse dormir lá em casa, cedíamos a nossa cama e quarto sem nenhum problema, era como se fosse um prazer ajudar.

Recebia um bom salário, mas no final do mês não tinha nada na minha conta, gastava com as necessidades dos outros, e não sobrava para mim.

Era um dos primeiros nomes a serem lembrados quando alguém precisava de algo: levar no hospital, pegar alguma encomenda, ou qualquer outra coisa, ficava feliz em poder ajudar e me sentia com a sensação de dever cumprido, mesmo que fosse depois do plantão, ou logo antes, não me importava, ficava muito feliz em poder ajudar e ser reconhecida por isso.

Fazia o curso de contábeis na época, porque queria mudar de profissão, queria ser Analista de Controle Externo do TCU, e para entender direito a contabilidade entrei no curso de contábeis, fazia a maior ginástica para assistir às aulas e passar, por causa das faltas devido aos plantões.

Também tinha outras atividades que me davam prazer: dança, dança do ventre, canto, violão, basquete, yoga e tai chi, chegava em casa sempre exausta e simplesmente dormia, queria preencher meu tempo, para não ser tão disponível às demandas alheias.

Quanto às minhas relações pessoais, tinha dificuldades em acabar o namoro, mesmo quando não gostava mais, o namorado tinha que estar bem, não podia fazê-lo sofrer em nenhuma hipótese, o que eu sentia não importava muito. Também tinha uma certa tendência à acomodação, então continuava a relação mesmo sabendo que não fazia sentido algum, esperando que algo mágico acontecesse e mudasse tudo.

Sempre ficava entre estar com uma pessoa que seria aceita na minha família e os que de fato gostava, então não era fácil, porque os que realmente mexiam comigo, não pertenciam aos padrões que seriam aceitos.

Tinha um carro que juntei quase todo o dinheiro e comprei de vez, não gostava de dever nada a ninguém, mesmo sabendo que podia pagar, então demorei demais para comprá-lo porque como já disse era muito difícil juntar.

Essa minha tendência de qualquer pessoa ser mais importante que eu, fazia com que muitas vezes minha irmã saísse com o carro e eu ficasse sem sair, porque ela tinha pedido o carro primeiro. Dava a ela o mesmo direito que eu tinha, o que não fazia sentido algum.

Viajava muito para fazer concursos, e nas vezes em que viajava para me divertir, era sempre em família, eu fazia uma ginástica danada para ser a conciliadora, e para tudo sair bem; é verdade que essas viagens sempre me renovavam. Também sempre escolhíamos a mesma cidade e o mesmo hotel, e muitas vezes o mesmo passeio, a mudança não era algo seguro para mim.


Neste momento eu me encontrava muito refém da opinião alheia, não queria desapontar ninguém, qualquer pessoa era mais importante que eu, não gostava de dever nada a ninguém, resistente às mudanças, bastante acomodada, confusa, apostando que sem esforço meu, algo mágico aconteceria e mudaria o cenário, aceitando regras que não deveriam fazer sentido nenhum para a minha idade, insegura, covarde, concessiva, sem autenticidade, com o mesmo sorriso para o que eu gostava e para o que eu não gostava. Um mistério para todos e para mim mesma.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Pausa para refletir

Sempre que falar de um tópico vou posicionar vocês com o que descobri depois que dava suporte àquelas informações.

Quando tinha 5 anos eu estudava em Garanhuns, e os negócios da minha família não deram certo por lá, e tivemos que nos mudar para Recife. Eu era bem inteligente e já lia, escrevia, multiplicava e dividia, e, quando vim para cá, o colégio me colocou de volta na alfabetização e me colocou com acompanhamento psicológico, porque ainda assim estava adiantada. Então, lembro-me que ficava sem entender porque estava aprendendo a ler de novo, e porque estava indo para uma psicóloga, que só me pedia para fazer coisas bem fáceis.

Esse acontecimento deve ter construído em mim essa sensação de desajuste da psicóloga, de que ela não sabia o que fazia. Esse foi de fato um momento marcante na minha vida, que trouxe muitos aspectos ao meu ser, o primeiro foi esse, os outros serão mencionados no momento oportuno.

Até esse momento, as minhas informações eram minhas, não conversava sobre os meus problemas com ninguém, não confiava nos meus pais , nos meus amigos,  em ninguém. Minha educação foi bem repressora, e o cuidado era para que eu estivesse sem doença e estudando bem direitinho, a parte afetiva do carinho, abraço e beijo não acontecia, sempre existindo uma distância segura.

Não existia uma abertura com os meus pais para falar sobre os meus problemas, o mesmo acontecendo com as minhas amigas, então só me restava guardar os meus problemas e resolvê-los sozinha. Talvez daí tenha nascido a minha auto-suficiência...

Outro aspecto a destacar nessa primeira sessão era a minha pressa, minha vontade de sair o mais rápido possível do que me assusta, de estar bem logo. Esse aspecto ainda é presente em mim hoje, é um misto de medo e ansiedade, estou melhor, mais desacelerada, com os pés no chão, porém existem resquícios disso em mim ainda.

Fiquei admirada foi como a minha atual terapeuta tinha descoberto tanta coisa de mim, sem eu dizer quase nada; estava assustada, intrigada, e muito interessada em descobrir como isso podia acontecer.

Era um poder muito grande que ela tinha nas mãos, conhecer tão a fundo assim os seus pacientes. Hoje sei que quanto mais a pessoa se conhece, mais entende e conhece os outros também. Que ir fundo na descoberta de suas feridas lhe dá a maturidade de reconhecer onde possa estar as feridas das outras pessoas.


Era um mundo novo de muitas informações ao meu respeito, muitas questões para lidar, muitas coisas a transformar, muita dor para ser sentida, e muita amor para acompanhar os meus pacientes nessas descobertas também mais a frente. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O primeiro contato com a terapia

Meu conceito inicial de psicólogos era que eles eram desajustados, os contatos que tive com alguns em cursos, por exemplo, foram desconfortáveis para mim; eles sempre estavam à flor da pele, cheios de problemas, sensíveis demais. Sempre pensei: “Deus me livre disso, eles não sabem resolver nem os próprios problemas, quanto mais os dos outros”.

Com esses conceitos preconcebidos entrei na minha primeira sessão de terapia, e mais, estava ali a contragosto, então eu não ia facilitar o trabalho de ninguém.

Lembro-me que foram feitas perguntas triviais, respondidas sempre com reservas, sem dizer tudo, apenas o estritamente necessário, estava na defensiva, louca que acabasse aquela conversa fiada.

Não estava vendo como é que os meus medos acabariam com aquela conversa; era mais fácil eu esperar o tempo passar – a minha sorte foi a abertura conseguida com a acupuntura. Estava prestes a sair de lá, conversa sem nexo, eu queria que ela resolvesse logo o meu problema.

Pois bem, ao fim das perguntas ela me disse um monte de informações a meu respeito, informações essas que só conhecia metade, explicou algumas características minhas e deu exemplos de possíveis acontecimentos que poderiam se tornar realidade se eu continuasse agindo daquela maneira.

Uma dessas características foi que eu era uma pessoa programada; vou discorrer sobre esse aspecto, para vocês entenderem o nível de informação que recebi. Lembro-me bem que nessa época se quisessem que eu fosse para algum lugar, tinham que me avisar com antecedência para que eu reservasse a data na agenda, não existia nenhuma possibilidade de eu trocar o compromisso de última hora, eu tinha com certeza a programação de todos os meus passos até o fim do mês.

Ela me disse que esse era um aspecto preocupante porque não havia espaço para o inesperado na minha vida, será que vocês já leram algo parecido nos textos anteriores? E me falou de um caso que o marido estava se separando da esposa por ela ter essa característica ao extremo. Falou de uma situação em que eles iam viajar para algum lugar, no sábado pela manhã, e ele resolveu de última hora mudar para a sexta à noite, e ela não aceitou porque tinha um cabelereiro de manhã. Enfim, muito próximo do que eu era: bem metódica e programada!

Das informações que recebi, conhecia por alto uns cinquenta por cento, o resto eu nem tinha ideia, fiquei intrigada. Como assim uma pessoa que nunca me viu, passa uma hora conversando comigo e sabe mais de mim mesma do que eu própria!
Foi bem rica a sessão em informações sobre mim, mas infelizmente não a escrevi em canto nenhum e esqueci boa parte dela.

Ao final, ela disse que ia usar comigo uma técnica chamada renascimento, e explicou: “ Você vai respirar durante algum tempo na mesma frequência da respiração de um cd que tenho, e vai ficar imóvel, durante esse tempo; se você não se mexer, os seus medos serão apagados”.
Dei uma gargalhada e disse: “ Não acredito em uma só palavra do que você está dizendo, mas se eu fizer sem acreditar, funciona?”, ela respondeu que sim e me deu um site para eu pesquisar acerca do método.

Passei a semana pensando sobre o que ela tinha dito a meu respeito, e cheguei à conclusão de que tudo fazia sentido e tinha uma conexão perfeita com o que eu era naquele momento. De uma certa forma, pelo menos o meu interesse ela já havia despertado.

Não olhei nada do site; prefiro experimentar e ver se acontece, do que estudar a respeito antes, mas de toda forma estava achando tudo fantástico demais para ser verdade e fui lá com o intuito de provar que não ia funcionar.

Fiz tudo como mandavam as regras, não mexi nada, mantive-me respirando, cheguei no espaço onde estariam meus medos e continuei respirando.

Depois que a técnica foi realizada, ela me perguntou como me sentia, disse a ela que estava bem, que tive vontade de coçar as sobrancelhas, mas que permaneci imóvel.

Mandou-me para casa, e eu pensei: “ Não disse, sabia que não ia funcionar!”.

Saí da clínica e parei num sinal amarelo, do lado de muitas motos e estava tirando o celular da bolsa para ligar, então me dei conta que não tinha mais medo, fiquei assustada e feliz. O que tinha acontecido agora é que ela havia ganho de fato a minha confiança e que daí para frente me entregaria sem reservas ao que quer que fosse proposto.


Ela também me havia falado que os sintomas seriam apagados, mas que eu teria que lidar com as causas e resolvê-las; não parecia um problema para mim, estava feliz, estava em contato com um mundo que me intrigava, mas que me mudava.