quinta-feira, 12 de março de 2015

O Ritual Xamânico

Houve toda uma preparação para o ritual acontecer: tínhamos que comer comidas leves durante o dia, o objeto de que gostávamos e que levamos para viagem era para entregar de presente para o xamã e praticar o desapego, e nesse dia, eu não ia poder ligar para meu namorado, porque não tinha hora para voltar.

Mandei uma mensagem para ele dizendo que não ia poder ligar à noite, ia fazer o ritual e não sabia a que horas iríamos voltar e que depois eu explicava.

Para o presente do xamã, como tinha levado dois, escolhi o que seria mais fácil de repor; ou seja, não pratiquei, de fato, o desapego.

No trajeto para o local de realização do ritual xamânico, tivemos que trocar de ônibus – havia uma ponte, no meio do percurso, que não suportaria o peso dele. Pegamos, então, um ônibus velho – a ponte era realmente perigosa. Na ida, de dia, já achei complicado; imagina à noite! Já fiquei com medo.

O lugar era lindo; quem conhece o Vale do Capão sabe do que estou falando. O ritual aconteceria à noite, tínhamos que estar de roupa de banho e consistia em entrar em uma cabana que só cabia todo mundo muito apertadinho, e que também não tinha altura: ótimo para a minha claustrofobia! Depois, aconteceriam alguns cantos e seriam colocadas pedras quentes, água e ervas no ambiente.

Foi chegando a hora do ritual. Previamente, ingerimos alguma bebida e recebemos algumas instruções: deveríamos fazer um cumprimento à terra falando “por todas as nossas relações” e entrar; se precisássemos sair, teríamos que pedir permissão e fazer todo o processo novamente.

Fiquei no início da fila da primeira leva de quarenta pessoas que iam entrar; tínhamos que apertar bem muito, estava de um jeito que eu não tinha espaço dos lados e nem em cima e nem atrás, ouvi o xamã dizer que estávamos entrando no útero da nossa mãe. Eu já estava me sentindo sufocada, sem ar nenhum, e ele agora ia colocar uma segunda fila na minha frente; antes mesmo que eu pudesse pensar, saí correndo da tenda!

Tive que esperar o povo todo até terminar o processo, o lugar não tinha luz e estava muito frio, não conseguia achar minhas roupas. Não foi fácil lidar com esses desconfortos do lado de fora também.

De cara, veio a memória de quando estava no útero da minha mãe e que nasci laçada com duas voltas do cordão umbilical, completamente sufocada; a minha claustrofobia, certamente, tinha a ver com o meu nascimento.

Ao mesmo tempo que fiquei intrigada quanto à descoberta da motivação da minha claustrofobia, tive que lidar com a frustração de não ter conseguido ficar no ritual, porque o medo foi maior que eu, porque tinha desistido; olha a minha cobrança de novo, com gosto de gás!