quarta-feira, 22 de julho de 2015

Encerramento do Grupo

Antes do encerramento, enquanto esperava para tomar banho, liguei para meu amor e ele foi bem chato ao telefone; foi estranho, não tinha entendido o que havia mudado, mas só poderia saber quando chegasse em Recife.

Arrumamo-nos para a festa e, antes do início, minha terapeuta colocou todos do mesmo chalé sentados juntos e cada um deveria falar dos desconfortos que porventura vivenciaram. No meu caso, não experimentei desconfortos; foi bem tranqüilo ficar lá, sempre ria muito, eram muito divertidos nossos momentos!

Depois cada um deveria falar da sua experiência no grupo. Algumas pessoas que eu julgava fortes e experientes nesse tipo de grupo falaram que faltaram catarses, ao contrário de mim, que estava no meu primeiro grupo, e achei toda a experiência muito intensa e cheia de descobertas.

Não falei das descobertas em si, mas falei que teria muita coisa para tratar em sessão individual. Ganhamos camisas, tiramos fotos e depois, desfrutamos de um jantar para lá de especial regado a vinhos.

Foi muito legal a confraternização e, como a essa altura eu já conversava com todo mundo, fiquei de fazer um grupo no gmail para colocarmos as fotos e dividirmos os nossos momentos. Estava mais solta, tinha vivido muita coisa nova, e algo com certeza iria mudar em minha vida.




Espero que vocês leitores que acabaram de fazer essa viagem comigo aproveitem todas as descobertas que fiz, que elas sirvam para vocês assim como serviu para mim! Foi ótimo reviver esses momentos!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Pôr do Sol no Pai Inácio

Saímos um pouco atrasados para o Pai Inácio e, por isso, tivemos que subir o que normalmente se sobe de carro a pé, já que o ônibus não subia. Era quase missão impossível: tínhamos uns vinte minutos para chegar e a distância era enorme, deveríamos estar lá até 17 horas, além do que, na volta, desceríamos sem luz, pós pôr do sol. Algumas pessoas desistiram, mas a nossa integrante com mais idade deu uma lição de querer é poder, chegou lá em cima com a ajuda da equipe; linda a sua determinação e o apoio do grupo!

Conseguimos entrar, porém agora começava a subida, e para valer a ida até lá, precisaríamos da luz do sol.

Era a vez de enfrentar o meu medo de altura, achei tudo muito perigoso, as pedras, e subia pensando em como iria descer, esse era mais um padrão meu, preocupar-me com algo que não existe agora.

No topo do Pai Inácio fui presenteada com um dos mais lindos pores do sol da minha vida. A sensação anterior, de desistência do ritual xamânico, estava superada com a chegada lá em cima.


Tirei umas fotos e, quando do retorno, na descida, o fizemos rápido também, não dei espaço para sentir os meus medos, ainda pisei em falso em alguma pedra, mas não me machuquei, cheguei lá em baixo sã e salva e com a sensação de ter vivido algo muito especial!

sábado, 16 de maio de 2015

Vivência regressiva: retorno à minha infância

Essa vivência começou com músicas infantis da minha época e em duplas, cada um pintando o outro. Sobrei e fiquei em trio, com um casal.

A atividade era difícil para mim porque nas vezes em que expressei minha criatividade até então, fui bastante criticada. Por não ter desenvolvido minha coordenação motora, essa atividade de pintura não fazia parte do melhor que tenho em mim. Eu não sabia fazer, mas era para fazer, então fiz.

Logo depois, a terapeuta pediu que fechássemos os olhos e começássemos a lembrar de nossa infância, de nossas brincadeiras, do que a gente queria ser quando crescesse, dos amiguinhos da época. Essas simples lembranças trouxeram à tona memórias que teria que lidar depois.

Lembrei que queria ser médica, e que, de fato, eu tinha me distanciado muito do que seria o meu caminho.  Eu era formada em ciência da computação, trabalhando no serviço público na área de tributação e querendo fazer concurso na semana posterior à chapada, para analista de controle externo!

Também lembrei que por volta dos doze anos, tive que deixar minhas brincadeiras com minhas amigas para cuidar dos meus irmãos, tinha que ensiná-los, eles deveriam passar de ano, essa era a minha obrigação! Não queria ter essa responsabilidade, mas não tinha outro jeito; minha mãe tinha sido aprovada num concurso e inicialmente passou um tempo em Petrolina e depois em Bodocó; só a víamos nos fins-de-semana. Depois, ela voltou para casa, mas não para a função de mãe, já havia tomado essa função para mim.

Estava tudo errado; era mãe do meu pai, do meu irmão e da minha irmã, e irmã da minha mãe! Também me dei conta que protegi meus irmãos, mas que ninguém me protegia, dei-me conta do meu abandono.

Engraçado que antes dessa vivência, enxergava minha mãe como “a salvadora da pátria”, fazendo o que ela podia fazer. Esse ângulo é bem verdade, foi uma virada e tanto que ela deu na vida, mas tinha esse outro aspecto familiar, percebido agora, e que também não sabia como lidar.

Chorei sem parar, só chorava. Começou a parte da brincadeira da vivência - a idéia era se divertir - mas eu não queria, só chorava, recusei mesmo. Lembro que logo depois da vivência fui ao banheiro e tirei toda a tinta do meu rosto o mais rápido possível, como se tirando a tinta, eu pudesse refazer o que havia descoberto: não podia mesmo!


Lembrando da cena agora, percebo que existia uma raiva em mim, uma raiva por ter tido tanta responsabilidade antes da hora, por ter perdido fases da minha vida, por precocemente ter levado a vida tão a sério.

domingo, 12 de abril de 2015

Vivência com Arte terapia

Em mais uma atividade no salão, foram distribuídas cartolinas e tinta guache, para que desenhássemos o que sentíamos; adivinhem só o meu desenho: um coração nas grades de uma prisão! Eu não tinha muito acesso ao que sentia, mas toda vez que faço um trabalho de arte terapia, a resposta é sempre imediata.

O que descobri nesse momento foi que estava me afastando do meu amor porque me sentia presa em meus próprios condicionamentos, por ele não ser o esperado pela minha família, pelos meus amigos e por mim própria. Até então, entrava nas relações achando que ia mudar a outra pessoa.

Curiosamente eu tinha um padrão de atrair pessoas que não tinham a mesma independência financeira e isso me deixava numa situação delicada, porque na minha cabeça, se eu tinha namorado deveria viajar com ele e não só, como estava fazendo, porém não existia a possibilidade de viajarmos às minhas custas, ele não queria.

Engraçado que me dou conta agora que minha história tem um pouco de privação em todo lugar. Eu podia fazer qualquer coisa, tipo viajar para a chapada em cima da hora e ele não tinha a mesma disponibilidade; consequentemente, nós não podíamos fazer nada!

Não vejo o dinheiro como um fim em si mesmo, mas como uma ferramenta para experimentar as situações que se apresentam na vida; já que dos doze aos dezenove anos não pude viajar muito, nem sair muito, então esperava que agora pudesse fazê-lo.

Apesar de estar aproveitando todas as vivências da chapada, havia a culpa por ter deixado ele lá; não era muito certo para os meus parâmetros de então. Além disso, havia sentido que ele não tinha gostado da minha ida: ele não poderia ir e portanto, nós menos ainda!

O problema é que por mais desafiante que fosse essa jornada, eu estava gostando; então, era bem provável que eu fosse querer mais e talvez já houvesse sentido que teria que escolher entre nós e eu.

E mais: tinha descoberto que, por esses condicionamentos meus, mantinha uma distância segura dos meus sentimentos; eu o amava, mas não queria passar de um determinado limite, limite esse que eu achava que daria conta de ficar bem se ele fosse embora.

Descobri que tinha dependência passiva, não me entregava de verdade por medo de sofrer depois. E decidi então que eu ia mudar isso, que ia assumir o meu sentimento, vivendo completamente o que estava querendo viver, sem reservas.

Na adolescência ele havia me dito que não namorava comigo porque me trairia e que eu era boa demais para ele. É óbvio que isso estava guardado em algum ponto da minha memória, e já que eu ia ser traída era melhor não estar tão entregue assim. Mas depois de tudo que já vivi, posso dizer sem medo de errar, que vale super a pena um momento de pura entrega, de seu coração batendo forte, mesmo que num outro momento você venha a sofrer a maior decepção da sua vida. Se a tristeza vier depois é só uma prova de o que você sentiu foi verdadeiro e que um dia ela passa, como tudo na vida passa.


quinta-feira, 12 de março de 2015

O Ritual Xamânico

Houve toda uma preparação para o ritual acontecer: tínhamos que comer comidas leves durante o dia, o objeto de que gostávamos e que levamos para viagem era para entregar de presente para o xamã e praticar o desapego, e nesse dia, eu não ia poder ligar para meu namorado, porque não tinha hora para voltar.

Mandei uma mensagem para ele dizendo que não ia poder ligar à noite, ia fazer o ritual e não sabia a que horas iríamos voltar e que depois eu explicava.

Para o presente do xamã, como tinha levado dois, escolhi o que seria mais fácil de repor; ou seja, não pratiquei, de fato, o desapego.

No trajeto para o local de realização do ritual xamânico, tivemos que trocar de ônibus – havia uma ponte, no meio do percurso, que não suportaria o peso dele. Pegamos, então, um ônibus velho – a ponte era realmente perigosa. Na ida, de dia, já achei complicado; imagina à noite! Já fiquei com medo.

O lugar era lindo; quem conhece o Vale do Capão sabe do que estou falando. O ritual aconteceria à noite, tínhamos que estar de roupa de banho e consistia em entrar em uma cabana que só cabia todo mundo muito apertadinho, e que também não tinha altura: ótimo para a minha claustrofobia! Depois, aconteceriam alguns cantos e seriam colocadas pedras quentes, água e ervas no ambiente.

Foi chegando a hora do ritual. Previamente, ingerimos alguma bebida e recebemos algumas instruções: deveríamos fazer um cumprimento à terra falando “por todas as nossas relações” e entrar; se precisássemos sair, teríamos que pedir permissão e fazer todo o processo novamente.

Fiquei no início da fila da primeira leva de quarenta pessoas que iam entrar; tínhamos que apertar bem muito, estava de um jeito que eu não tinha espaço dos lados e nem em cima e nem atrás, ouvi o xamã dizer que estávamos entrando no útero da nossa mãe. Eu já estava me sentindo sufocada, sem ar nenhum, e ele agora ia colocar uma segunda fila na minha frente; antes mesmo que eu pudesse pensar, saí correndo da tenda!

Tive que esperar o povo todo até terminar o processo, o lugar não tinha luz e estava muito frio, não conseguia achar minhas roupas. Não foi fácil lidar com esses desconfortos do lado de fora também.

De cara, veio a memória de quando estava no útero da minha mãe e que nasci laçada com duas voltas do cordão umbilical, completamente sufocada; a minha claustrofobia, certamente, tinha a ver com o meu nascimento.

Ao mesmo tempo que fiquei intrigada quanto à descoberta da motivação da minha claustrofobia, tive que lidar com a frustração de não ter conseguido ficar no ritual, porque o medo foi maior que eu, porque tinha desistido; olha a minha cobrança de novo, com gosto de gás!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Divergências de opiniões

Na manhã seguinte, pós meditação e café da manhã, fomos todos para o salão. Havia acontecido uma confusão à noite em um dos chalés, os integrantes dele e todos os que tinham dificuldade para dormir sabiam algo a respeito. Eu não sabia de nada, até porque pouquíssimas vezes na vida tive dificuldade para dormir.

A minha terapeuta começou a falar da importância de se falar de seus incômodos diretamente, evitando-se intrigas desnecessárias. Logo depois, os três integrantes do chalé foram chamados a falar sobre o que houve, não me lembro o foco da discussão, mas o que mais me impactou foi uma das integrantes que não tomou posição, que não queria desagradar ninguém e que acabou sendo usada por outra para justificar suas histórias.

Este seria o meu comportamento, nessa situação; eu não me comprometeria, não desagradaria ninguém. O resultado estava bem claro: as duas pessoas estavam com raiva dessa integrante! Cheguei à conclusão de que era importante me posicionar para não ser usada por nenhum dos lados.

Infelizmente tem que se desagradar alguém, nem Jesus Cristo agradou a todos, então é importante se posicionar em tudo, para que você não entre em um dos lados, sem nem mesmo ser essa sua vontade, pois calar é consentir, e esse silêncio pode ser usado contra você mesma.

Foi muito forte porque enxerguei os três lados da situação, principalmente o meu lado. Elas todas tiveram que continuar no mesmo chalé, mas com certeza, todas estavam estremecidas. Os desconfortos são justamente as oportunidades de crescimento.

Agora vamos deixar claro que saber é bem diferente de fazer.  Em momentos posteriores, não me vi na situação dela, mas muito perto, porque tinha dificuldades em lidar com conflitos, não gosto de confusão, era um parto me posicionar diante de pessoas fortes.

Meus pais são pessoas fortes e algumas vezes me via em situações complicadas. Por exemplo, estávamos numa viagem para nos divertir e eles emperravam com determinado ponto, e eu e meus irmãos tínhamos que esperar eles terminarem a birra. Para não perder tempo e para ser a queridinha, a solucionadora de conflitos, eu mediava. Nunca havia sobrado para mim, mas era cansativo estar entre os dois polos do conflito.

Foi o primeiro aprendizado relativo a conflitos; ainda demorei bastante para conseguir me posicionar com pessoas fortes, muitas outras situações que serão contadas aqui no blog, foram necessárias para de fato entender o que é me posicionar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A experiência na gruta

Fomos cedinho para a gruta e de lá iríamos para o ritual xamânico; então não poderíamos atrasar! A princípio, iríamos para a Torrinha e para a Pratinha, mas estavam cheias por causa do feriado e acabamos na gruta da Lapa Doce.

Disseram apenas para esvaziarmos a bolsa, porque teríamos que andar muito e porque não iríamos precisar do que estava lá; deixei a máquina fotográfica no ônibus, achando que não ia poder fotografar.

Na fila descobri que podia fotografar lá, falei com a minha terapeuta para pegar a máquina, ela não quis deixar porque eu ia entrar naquele momento, só que fiquei propositalmente para o próximo grupo e fui lá ao ônibus correndo para pegá-la. Até aí eu tirava muitas fotos e depois é que eu vivia aquele momento através delas.

Ela foi bem firme na resposta negativa e eu não estava acostumada com isso, esperava que ela fosse me agradar como eu fazia com todo mundo. Depois, ela me disse que tinha que fazer com que as coisas funcionassem: isso era exercer a liderança!

Lá na gruta iríamos ter um momento de silêncio no total escuro, onde deveríamos fazer uma meditação. Estávamos entrando no útero da mãe terra e eu com meus medos, medo de escuro, medo de lugares fechados, medo do novo; mas vamos lá.

Entrei lá e o lugar era um pouco escuro e úmido, e caminhávamos com o auxílio do lampião do guia, estava bem distraída com as fotos que estava tirando então nem estava percebendo que estava com medo.

A meditação foi bastante interessante, com sensações novas; se estivesse de olhos abertos ou fechados, o escuro era total! Os lampiões foram apagados, eu não estava tirando fotos, então meus medos apareceram, minhas mãos estavam suando frio e tremendo, porém só me dei conta porque a companheira que estava ao meu lado me falou.

Depois disso, continuei tirando fotos para me distrair, porém o medo já havia tomado conta. Só comecei a relaxar quando vislumbrei a saída da gruta.

Um dos ensinamentos do meu grupo de terapia é: siga para onde o seu medo aponta! A minha vontade de conhecer a chapada acabou por revelar que apesar do medo a gente sobrevive, e que se nos escondermos atrás dele vamos perder muito da vida.