Sempre que falar de um tópico vou posicionar vocês com o que
descobri depois que dava suporte àquelas informações.
Quando tinha 5 anos eu estudava em Garanhuns, e os negócios
da minha família não deram certo por lá, e tivemos que nos mudar para Recife. Eu
era bem inteligente e já lia, escrevia, multiplicava e dividia, e, quando vim
para cá, o colégio me colocou de volta na alfabetização e me colocou com
acompanhamento psicológico, porque ainda assim estava adiantada. Então,
lembro-me que ficava sem entender porque estava aprendendo a ler de novo, e
porque estava indo para uma psicóloga, que só me pedia para fazer coisas bem
fáceis.
Esse acontecimento deve ter construído em mim essa sensação
de desajuste da psicóloga, de que ela não sabia o que fazia. Esse foi de fato
um momento marcante na minha vida, que trouxe muitos aspectos ao meu ser, o
primeiro foi esse, os outros serão mencionados no momento oportuno.
Até esse momento, as minhas informações eram minhas, não
conversava sobre os meus problemas com ninguém, não confiava nos meus pais ,
nos meus amigos, em ninguém. Minha
educação foi bem repressora, e o cuidado era para que eu estivesse sem doença e
estudando bem direitinho, a parte afetiva do carinho, abraço e beijo não
acontecia, sempre existindo uma distância segura.
Não existia uma abertura com os meus pais para falar sobre
os meus problemas, o mesmo acontecendo com as minhas amigas, então só me
restava guardar os meus problemas e resolvê-los sozinha. Talvez daí tenha
nascido a minha auto-suficiência...
Outro aspecto a destacar nessa primeira sessão era a minha
pressa, minha vontade de sair o mais rápido possível do que me assusta, de
estar bem logo. Esse aspecto ainda é presente em mim hoje, é um misto de medo e
ansiedade, estou melhor, mais desacelerada, com os pés no chão, porém existem
resquícios disso em mim ainda.
Fiquei admirada foi como a minha atual terapeuta tinha
descoberto tanta coisa de mim, sem eu dizer quase nada; estava assustada,
intrigada, e muito interessada em descobrir como isso podia acontecer.
Era um poder muito grande que ela tinha nas mãos, conhecer
tão a fundo assim os seus pacientes. Hoje sei que quanto mais a pessoa se
conhece, mais entende e conhece os outros também. Que ir fundo na descoberta de
suas feridas lhe dá a maturidade de reconhecer onde possa estar as feridas das
outras pessoas.
Era um mundo novo de muitas informações ao meu respeito,
muitas questões para lidar, muitas coisas a transformar, muita dor para ser
sentida, e muita amor para acompanhar os meus pacientes nessas descobertas
também mais a frente.