sábado, 16 de maio de 2015

Vivência regressiva: retorno à minha infância

Essa vivência começou com músicas infantis da minha época e em duplas, cada um pintando o outro. Sobrei e fiquei em trio, com um casal.

A atividade era difícil para mim porque nas vezes em que expressei minha criatividade até então, fui bastante criticada. Por não ter desenvolvido minha coordenação motora, essa atividade de pintura não fazia parte do melhor que tenho em mim. Eu não sabia fazer, mas era para fazer, então fiz.

Logo depois, a terapeuta pediu que fechássemos os olhos e começássemos a lembrar de nossa infância, de nossas brincadeiras, do que a gente queria ser quando crescesse, dos amiguinhos da época. Essas simples lembranças trouxeram à tona memórias que teria que lidar depois.

Lembrei que queria ser médica, e que, de fato, eu tinha me distanciado muito do que seria o meu caminho.  Eu era formada em ciência da computação, trabalhando no serviço público na área de tributação e querendo fazer concurso na semana posterior à chapada, para analista de controle externo!

Também lembrei que por volta dos doze anos, tive que deixar minhas brincadeiras com minhas amigas para cuidar dos meus irmãos, tinha que ensiná-los, eles deveriam passar de ano, essa era a minha obrigação! Não queria ter essa responsabilidade, mas não tinha outro jeito; minha mãe tinha sido aprovada num concurso e inicialmente passou um tempo em Petrolina e depois em Bodocó; só a víamos nos fins-de-semana. Depois, ela voltou para casa, mas não para a função de mãe, já havia tomado essa função para mim.

Estava tudo errado; era mãe do meu pai, do meu irmão e da minha irmã, e irmã da minha mãe! Também me dei conta que protegi meus irmãos, mas que ninguém me protegia, dei-me conta do meu abandono.

Engraçado que antes dessa vivência, enxergava minha mãe como “a salvadora da pátria”, fazendo o que ela podia fazer. Esse ângulo é bem verdade, foi uma virada e tanto que ela deu na vida, mas tinha esse outro aspecto familiar, percebido agora, e que também não sabia como lidar.

Chorei sem parar, só chorava. Começou a parte da brincadeira da vivência - a idéia era se divertir - mas eu não queria, só chorava, recusei mesmo. Lembro que logo depois da vivência fui ao banheiro e tirei toda a tinta do meu rosto o mais rápido possível, como se tirando a tinta, eu pudesse refazer o que havia descoberto: não podia mesmo!


Lembrando da cena agora, percebo que existia uma raiva em mim, uma raiva por ter tido tanta responsabilidade antes da hora, por ter perdido fases da minha vida, por precocemente ter levado a vida tão a sério.