sexta-feira, 28 de março de 2014

Como estava minha vida no início da terapia

Morava com os meu pais, sem nenhuma intenção de me mudar, tinha ajudado a comprar o apartamento e achava que ele era meu também. Minha mãe sempre me deixou “confortável” por lá; é verdade que não é como se ter a própria casa, não podia fazer festas, nem era muito tranquilo levar alguém para dormir por lá.

Não podia dormir fora de casa com um namorado, não era verdade que eles gostavam que eu dormisse fora de casa também.

Se alguém precisasse dormir lá em casa, cedíamos a nossa cama e quarto sem nenhum problema, era como se fosse um prazer ajudar.

Recebia um bom salário, mas no final do mês não tinha nada na minha conta, gastava com as necessidades dos outros, e não sobrava para mim.

Era um dos primeiros nomes a serem lembrados quando alguém precisava de algo: levar no hospital, pegar alguma encomenda, ou qualquer outra coisa, ficava feliz em poder ajudar e me sentia com a sensação de dever cumprido, mesmo que fosse depois do plantão, ou logo antes, não me importava, ficava muito feliz em poder ajudar e ser reconhecida por isso.

Fazia o curso de contábeis na época, porque queria mudar de profissão, queria ser Analista de Controle Externo do TCU, e para entender direito a contabilidade entrei no curso de contábeis, fazia a maior ginástica para assistir às aulas e passar, por causa das faltas devido aos plantões.

Também tinha outras atividades que me davam prazer: dança, dança do ventre, canto, violão, basquete, yoga e tai chi, chegava em casa sempre exausta e simplesmente dormia, queria preencher meu tempo, para não ser tão disponível às demandas alheias.

Quanto às minhas relações pessoais, tinha dificuldades em acabar o namoro, mesmo quando não gostava mais, o namorado tinha que estar bem, não podia fazê-lo sofrer em nenhuma hipótese, o que eu sentia não importava muito. Também tinha uma certa tendência à acomodação, então continuava a relação mesmo sabendo que não fazia sentido algum, esperando que algo mágico acontecesse e mudasse tudo.

Sempre ficava entre estar com uma pessoa que seria aceita na minha família e os que de fato gostava, então não era fácil, porque os que realmente mexiam comigo, não pertenciam aos padrões que seriam aceitos.

Tinha um carro que juntei quase todo o dinheiro e comprei de vez, não gostava de dever nada a ninguém, mesmo sabendo que podia pagar, então demorei demais para comprá-lo porque como já disse era muito difícil juntar.

Essa minha tendência de qualquer pessoa ser mais importante que eu, fazia com que muitas vezes minha irmã saísse com o carro e eu ficasse sem sair, porque ela tinha pedido o carro primeiro. Dava a ela o mesmo direito que eu tinha, o que não fazia sentido algum.

Viajava muito para fazer concursos, e nas vezes em que viajava para me divertir, era sempre em família, eu fazia uma ginástica danada para ser a conciliadora, e para tudo sair bem; é verdade que essas viagens sempre me renovavam. Também sempre escolhíamos a mesma cidade e o mesmo hotel, e muitas vezes o mesmo passeio, a mudança não era algo seguro para mim.


Neste momento eu me encontrava muito refém da opinião alheia, não queria desapontar ninguém, qualquer pessoa era mais importante que eu, não gostava de dever nada a ninguém, resistente às mudanças, bastante acomodada, confusa, apostando que sem esforço meu, algo mágico aconteceria e mudaria o cenário, aceitando regras que não deveriam fazer sentido nenhum para a minha idade, insegura, covarde, concessiva, sem autenticidade, com o mesmo sorriso para o que eu gostava e para o que eu não gostava. Um mistério para todos e para mim mesma.