Depois de um longo período sem escrever, retorno ao blog, plena de gratidão, na intenção de compartilhar com vocês algo que recentemente aconteceu na minha vida, do qual extraí tantos aprendizados, que preferi dividir a narrativa (quilométrica!) em alguns textos, a partir deste, que progressivamente publicarei.
Primeiro e
maior aprendizado: Você não está só, o Universo, Deus, ou o nome que for adequado
a você, sempre coloca à disposição absolutamente tudo que você precisa. Resta
saber se existe humildade em você para receber tudo que está ao seu redor.
Sofri um acidente de carro numa estrada próximo a
Cusco: estávamos eu, meu guia e o motorista do carro. Tínhamos ido a “rainbow
montain” logo cedo e estávamos retornando a Cusco.
Havia experimentado, a 5.070m de altitude, um
daqueles momentos em que você não sabe como começar a agradecer: muito próxima
às montanhas, as nuvens passando por mim, algo realmente especial; pode-se dizer que um daqueles momentos em que
sua respiração para de tanto êxtase.
Ademais, não existia qualquer indício que pudesse me
trazer insegurança: o carro era novo, o motorista cuidadoso, e sabia dirigir
bem.
Pois bem. O acidente aconteceu numa estrada próxima a
Cusco e não teve outros carros envolvidos. Estávamos em uma descida - segundo o
meu guia um cachorro atravessou na frente do carro. Além disso, havia pedras e
areia de um deslizamento recente, uma curva ao fim da descida, bem como uma ponte sem acostamento. Na tentativa de
desviar do cachorro, o carro passou pela
areia, perdeu o controle , rodou e bateu na ponte diversas vezes – nessa hora ,
provavelmente, eu devia estar de olhos fechados, já que não consigo precisar
exatamente o que se passou.
Já no primeiro momento pós- acidente eu precisei de
ajuda: tinha que sair rápido do carro
para que outro acidente não acontecesse !
Quando passei a mão no rosto, percebi que o sangue escorria; tentei
firmar o pé para sair do carro e não consegui sentir a perna. Foi necessário o
meu pedido de ajuda ao motorista.
Em minha vida, já aconteceram situações bem difíceis,
não apenas uma, várias! Mas dessa vez eu posso dizer que o comandante superior se
garantiu ! No momento do acidente eu pensei que tudo havia acabado ali! Mas
não, eu estava viva, muito viva, e o
acidente trouxe para mim um monte de emoções que estavam congeladas!
Quem já viveu comigo algumas dessas situações
difíceis, sabe bem que existia um comando mental muito forte em mim que me
deixava à parte do meu emocional: eu olhava e dizia: poderia ter acontecido, mas não aconteceu e me
mantinha sóbria, numa falsa serenidade!
Cada situação dessa foi descongelando aos poucos
muitos sentimentos que eu precisei reprimir para sobreviver até agora - como diria meu terapeuta Florian Shlosser, e
estava tudo ali; eu, em algum lugar nas estradas de Cusco, chorando feito
criança, meu coração acelerado, como nunca vi antes, num misto de gratidão por
estar viva, de dor física, e de medo do que poderia acontecer comigo naquele
estado, onde eu não sabia qual a gravidade das lesões sofridas.
Duas horas e meia para chegar na clínica de Cusco, e no
transporte até lá, teve até uma carona no camburão da polícia!
Dentro do camburão, pedi ao meu guia para me
comunicar com o hotel, porque o seguro viagem estava no quarto e tinha que
avisar a mamãe do acidente e para onde estávamos indo para que ela pudesse
chegar lá.
Mainha não estava no quarto, então deixei um recado
com Luz, a recepcionista do hotel, para que a avisasse. Fiquei um pouco
apreensiva, pois não sabia como minha mãe receberia a notícia, mas não podia
fazer de outro jeito, então era confiar que ia dar tudo certo.
Chegando lá ,sem poder firmar o pé direito e com o
supercílio aberto, fui atendida pela médica da emergência que, muito gentil
comigo, quis saber se eu tinha dor e acionou
logo um cirurgião plástico - porque eu precisaria de uma plástica no rosto.
Isso foi me assustando um pouco, eu que nunca havia quebrado nada, estava ali
para fazer uma cirurgia!
Não havia cirurgião plástico de plantão. Ligaram para
ele , que chegou em menos de 30 minutos, o tempo necessário para serem feitas
as primeiras radiografias.
Além de cirurgião plástico, o médico era ortopedista,
falava português, tinha feito uma especialização no Hospital das Clínicas em
São Paulo e era engraçado, ou seja: o médico que eu precisava para fazer a
primeira cirurgia desta vida! Tudo transcorreu bem; a anestesia foi local, e ele conversou comigo o tempo todo da
cirurgia, foi maravilhoso! Gratidão a todos os médicos e enfermeiros de lá!
Até a cirurgia, não sabia o que tinha acontecido com
a perna, as primeiras radiografias não mostraram fraturas, mas doía muito para
não ser nada.
Pós-cirurgia, o médico fez alguns movimentos na minha
perna. Veio a dor; novas radiografias realizadas, e nelas, foi detectada uma fratura incompleta do fêmur direito que, segundo ele, poderia ser tratada através de um
método conservador - sem cirurgia. Isso me deixou um pouco triste, porque me dei
conta de que as férias mal começadas, com a minha mãe, que incluiriam passeios
lindos e em sua maioria já contratados e pagos, terminariam naquele momento. Teríamos
que interromper a viagem e retornar ao Brasil.
Minha viagem a montanha teria atrapalhado a nossa
viagem do mês todo. Eu tinha alguma esperança de poder continuá-la, mas que
encerrou ali. Não recebi feliz a notícia de pronto, mas era o que deveria ser
feito. Então, mãos a obra para cancelar o que fosse possível.
Luz, do hotel, foi realmente” luz” em minha vida! Eu não podia ligar para todos os lugares que
ela ligou e nem conseguiria remarcar a viagem, estando internada no hospital.
Mainha não dispunha de espanhol fluente e nem equilíbrio emocional ,naquele
momento, para isso e mais, eu precisava
de uma acompanhante. Algumas coisas que eu pude cancelar pela internet, eu fiz.
Depois do acidente, uma das primeiras coisas que quis
fazer foi ligar para os meus irmãos, e dizer, com todas as letras, que deixassem
de besteira, que realmente a gente não sabe quando a vida nesse corpo acaba e o
que pode acontecer a cada momento, e que
não faz sentido nenhum emburrar por nada! Eu poderia ter morrido nesse acidente - estive muito perto disso - coisas que você só consegue dizer no momento.
Também liguei para uns amigos muito próximos, porque
eu precisava falar com eles, estava em estado de choque, mas era com eles que
eu queria falar.
A orientação médica era sair do hospital de Cusco
para o hospital no Brasil e procurar um especialista para que ele procedesse
com a conduta que achasse adequada. Foi
assim que tive liberação.
Liguei para minha amiga médica Cris, e perguntei se
conhecia alguém em Recife que era especialista e ela indicou um amigo
dela. Ainda em Cusco, encaminhei as radiografias, que a ele foram
repassadas. De posse delas e à primeira vista - já que no Brasil eu deveria fazer exames
complementares para confirmar o diagnóstico, ele informou que eu poderia sim
realizar o tratamento conservador.
Ainda no hospital em Cuzco, aprendi a andar com
muletas, precisando de muita ajuda de minha mãe e das enfermeiras... Começava
ai, o meu caminho de adaptação e recuperação do acidente...