quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Assalto

Em 19 de outubro de 2006, minha mãe me acorda pela manhã, queria que eu fosse com a minha avó pegar uns exames, acordei com um mau pressentimento, disse que não queria ir, ela insistiu, eu relutei.  Então,  ela pediu o carro emprestado para que minha irmã fosse, emprestei o carro a contragosto.

Disse a minha irmã que quando ela fosse deixar vovó em casa eu iria pegar uma carona porque precisava ir à casa do meu tio tomar uma vacina. E assim aconteceu, ela me ligou e fomos para a casa da minha avó e do meu tio.

Chegando lá, desci do carro e coloquei o braço para a minha avó descer, percebi, então,  uma aproximação: vi o revólver, e saí correndo, deixando minha avó e minha irmã lá. Corri em direção ao prédio, estava sem a chave de lá, então escutei o assaltante dizer: “ se correr, eu atiro”.  A adrenalina subiu e consegui abrir a porta com a força das minhas mãos, subi as escadas e só quando cheguei na casa do meu tio, lembrei que existiam vovó e minha irmã.

Minha irmã conseguiu manter a calma e com tranqüilidade tirou vovó de lá e, no fim, tudo saiu bem.

Nas grandes cidades como Recife um acontecimento bem corriqueiro, um assalto a mão armada, acontece nas melhores famílias. Se a nossa mente conseguisse se ater apenas aos fatos, nada de grave tinha acontecido: o assaltante levou o carro, alguns documentos pessoais, algum dinheiro, mas o que era de principal, nossas vidas, estavam todas a salvo.

Mas a minha mente não se ateve aos fatos, pensei: “o meu anjo da guarda foi bom demais para mim, no próximo assalto ele não dará conta de me proteger de novo”. O que me deixou preocupada foi que eu tinha certeza que eu daria tudo a qualquer assaltante e que eu jamais correria, ainda mais pondo em risco a vida da minha avó e da minha irmã.

Como agi totalmente diferente do que eu pensava, achei que não tinha controle sobre os meus atos, e fiquei achando que minha morte estava próxima. O medo tomou conta de mim, mas não sou uma pessoa que fica em casa porque está com medo, continuei a dirigir e a fazer tudo que fazia antes, achando que mais cedo ou mais tarde isso passava.

Fiquei com medo de parar o carro, de entrar no carro, de ser interceptada por um carro, de ser assaltada por uma moto, e comecei a fazer essas coisas de modo acelerado, não queria mais parar em sinal amarelo e nem em sinal vermelho em algumas situações de madrugada. Apesar disso, continuei ignorando a necessidade de pedir ajuda. Tinha que me resolver sozinha.

Certo dia, fui levar minha mãe no cabeleireiro, e ela percebeu que não estava dirigindo normalmente. Disse a mim: “Você vai acabar se matando ou matando alguém, dirigindo desse jeito”.

Minha mãe então precisava de uma solução rápida para mim, ficou sem saber o que fazer. Meu pai fazia acupuntura, então minha mãe pediu para perguntar se esse tratamento seria útil no meu caso, o que foi respondido afirmativamente pelo meu atual médico chinês.


A partir daí começou uma campanha incessante dela para que eu fosse me tratar. Olha foi uma chateação na época, toda vez que ela me via falava disso, meu pai também.

Um comentário:

  1. Amei sua colocação,sua mudança diga de passagem pra melhor ,foi sentida por nós,tenho certeza que seus depoimentos irá ajudar pessoas a procurar ajuda pra vencer seus medos.Te admiro e amo muito.Tia Emília.

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