Nossa primeira caminhada se deu logo depois de nossa
apresentação no salão, a proposta para a trilha era irmos em silêncio e
agradecendo a tudo que encontrássemos por lá.
Era uma trilha longa para iniciantes e com alguns obstáculos, nada muito
difícil, mas para mim era tudo novo.
De uma forma geral, diante de um desafio, gostava de me
distrair conversando e reclamando de tudo. Como tive que ficar em silêncio, não
pude usar essa estratégia para não sentir as minhas dificuldades. Porém o não
falar não impediu que existissem as reclamações internas.
Tirei algumas fotos, era uma forma de me distrair, queria
tirar fotos minhas, mas não gostava de pedir e tirei apenas aquelas que me
ofereceram.
No meio da trilha paramos todos e cada um escolheu uma
árvore para abraçar, a proposta era abraçar a árvore por um tempo. Depois dessa
vivência, seguimos mais um pouco e chegamos num lugar que teve um banho, o
lugar era lindo. Tive dificuldade de ficar de biquíni por causa da vergonha:
achava que meu corpo não estava bem, tudo fruto de minha imaginação e
perfeccionismo.
Voltei rápido, queria tomar banho primeiro, para que pudesse
almoçar em outro lugar; não deu certo, uma das meninas já estava por lá e o
jeito foi encarar o almoço do hotel.
Então já para o banho e depois o almoço, eu realmente não
comia verduras de espécie alguma e era bem rígida nisso, não quis nem
experimentar! Sobraram para mim bananas e arroz integral, que também não comia,
mas pelo menos não eram verduras. Comia
e chorava ao mesmo tempo. Não gostava que ninguém me visse chorando, então as
lágrimas caiam na ponta dos olhos.
Uma das pessoas da mesa falou que eu estava chorando e
perguntou o porquê, era tudo que eu não queria - chamar atenção - mas foi o que
aconteceu! E agora todos queriam ajudar, disseram que eu guardasse um pão do
café da manhã, e comecei a fazer dessas coisas.
Porém o que de fato aconteceu ali foi que estava sendo
privada de comer o que gostava e eu tinha feito uma promessa a mim que isso
nunca mais ia acontecer, e quando menos eu espero, aconteceu de novo e eu não
pude fugir disso.
Essa promessa tinha sido feita quando eu tinha doze anos;
ficamos nessa época morando na casa de vovó que nos acolheu. Porém, por um ano,
não tínhamos dinheiro e a comida era escassa. Queria evitar essa sensação de
impotência que eu estava vivendo de novo: privação de comida!
Além disso, não queria que ninguém me visse chorar e meio
que essa pessoa expôs o meu problema, pelo menos a todos que
estavam na mesa. Foi uma situação
difícil logo no início. Uma invasão que nem percebi como tal.
No salão comentamos o que experimentamos na vivência toda,
ainda hoje tenho dificuldades de expressar o que sinto plenamente com a voz,
naquela época mais ainda, então falei bem pouquinho, doida que acabasse logo.
Porém alguns depoimentos me chamaram atenção, pois eles
expressavam o que as pessoas sentiam; uma delas sentiu-se em comunhão com a
árvore, de forma que ela e a árvore era um só ser, outra pessoa sentiu que uma
ventania que teve por lá era uma resposta da natureza; expressões como essas,
faziam que eu exigisse de mim algo que não estava pronta para dar.
Queria estar naquela sintonia, mas não era verdade, o
caminho a trilhar estava apenas começando!
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